Quando meus filhos eram pequenos fomos à loja do Inter, localizada junto ao Estádio Beira-Rio. Era uma manhã de sábado. Depois das compras, sugeri que fôssemos ao campo suplementar assistir ao treino, mas quase todos os jogadores já haviam ido embora. Desanimados, tomamos o rumo da saída até que a minha mulher, Cármen, gritou:
– Olha lá… o “bonitão” ainda tá aqui!
O “bonitão” em questão era Fernandão. Ele estava de cabelos molhados e vestia uma jaqueta de náilon vermelha e calça jeans. Estacionei e na companhia da gurizada fui ao encontro do jogador. Cármen ficou no carro, constrangida em abordar o jogador.
– Vamos tirar uma foto? – antecipou-se o craque colorado.
Depois dos sorrisos de praxe e de assinaturas numa folha de papel, disse a ele que minha esposa era fã dele, mas estava envergonhada. Ele, então, perguntou onde ela estava. Apontei o carro e ele se dirigiu até o veículo.
– Oi, tudo bom? Não queres tirar uma foto comigo? – perguntou.
Ato seguinte abriu a porta para que ela saísse.
Ganhamos mais autógrafos e nos despedimos do jogador colorado que morreu tragicamente na madrugada de sábado depois de uma pescaria no rio Araguaia. É comum encontrar celebridades em restaurantes e shoppings de Porto Alegre. Infelizmente alguns olham com tamanho desdém ou má vontade que desestimulam qualquer aproximação ou contato.
São histórias semelhantes que envolveram craques colorados com mortes trágicas
Felizmente sempre existem as exceções. O técnico do Inter, Abel, foi simpático no dia em que nos encontramos no tradicional restaurante Barranco. Solícito, não se incomodou em interromper a refeição para dar um autógrafo ao meu filho em pleno meio-dia de um domingo ensolarado em que o Inter folgava.
Episódio semelhante aconteceu com outro jogador do Inter, igualmente atacante e que – pasmem! – também morreu de maneira estúpida.
Postados no portão de saída do treino do Colorado, ficamos caçando atletas famosos e conhecidos para dar autógrafos, até que alguém puxou a caneta e o bloco da mão do meu filho.
– Vou te dar um autógrafo, mas presta atenção: em pouco tempo este pedaço de papel vai valer muito dinheiro. Pode anotar aí! – disse o atacante Mahicon Librelato, 22 anos, recém-vindo do Criciúma (Santa Catarina),
Infelizmente ele teve uma carreira meteórica no Beira-Rio, disputou apenas 22 jogos e fez 10 gols. Poucos meses depois, em 28 de fevereiro de 2002, morreu num acidente de carro em Florianópolis na Avenida Beira Mar. A caminhonete que dirigia capotou, caiu na água e ele morreu afogado.
A empatia do ídolo com a torcida não tem lógica. Se dá instantaneamente ou é construída através de conquistas, gestos de carinho e reconhecimento mútuos. Fernandão e Mahicon Librelato se foram, mas estarão, para sempre, no coração dos gaúchos.