Estas três perguntas são velhas conhecidas dos meus filhos desde o nascimento deles. Se alguma das respostas for “não”, é sinal que a compra é desaconselhável.
São indagações que costumo referir todas as vezes que eles avançam o sinal em relação ao consumismo. Afinal, eu e a minha mulher é que precisamos bancar possíveis abusos. Mas para fazer justiça confesso que as compras desenfreadas felizmente não constituem motivo de preocupação para mim, em relação à gurizada lá de casa.
Desde cedo foram ensinados a valorizar o que tem e raramente dou dinheiro sem que me deem uma explicação plausível. Sou tão chato que depois de dez ou doze perguntas sobre os motivos da compra eles desistem. “Ok pai. Tu venceu no cansaço mais uma vez!”, resmungam pelos cantos.
Considero o consumismo uma das pragas da atualidade porque leva a outras pragas, como o descaso com objetos, sentimentos e até com as pessoas. Além disso, estimula a cultura do descarte em todos os âmbitos da vida moderna e faz do dinheiro algo banal que nem de longe lembra o esforço que se faz para obtê-lo.
A compra de um telefone celular, por exemplo, é parte da rotina, principalmente entre os jovens. Vejo adolescentes de classes menos favorecidas que operam aparelhos altamente sofisticados. “Olha que lindo! Comprei ontem, mas já tem outro mais moderno, com mais recursos. É um pouco mais caro e já pedi pra minha mãe”, ouvi dia desses na fila do supermercado. Imagino o sacrifício que os pais fazem para dotar os filhos da parafernália mais moderna do momento.
Morar numa república de conterrâneos serviu de orientação para a minha vida
É redundante revelar que a minha formação teve por base a rotina de economizar. Depois, como jovem adulto, morei em Porto Alegre, numa “república de arroio-meenses”. Com oito pessoas num apartamento, as tarefas eram divididas, as despesas partilhadas e o dinheiro era curto. Foi um aprendizado valioso que serviu de norte para o resto da minha vida.
Quando preciso fazer compras penso, medito, calculo, lembro das despesas mensais e das poucas fontes de receita e reluto por muito tempo. A falta de alguma camisa ou gravata espera até quando não é mais possível esperar. Na compra, sou objetivo, gasto pouco tempo no ato de comprar e regateio, faço contrapropostas, peço descontos, facilidade e tudo que possa valorizar meu dinheiro.
O pessoal lá de casa às vezes fica constrangido com a “mania de chorão”. Mas explico, sempre, que cada centavo é resultado do trabalho diário e dedicado. Por isso, merece a devida valorização, sob pena de “terminar o dinheiro e continuar o mês”. Adquirir faz bem ao ego, à autoestima, dizem os especialistas, mas é impossível mensurar o valor de uma noite bem dormida. Ficar insone por problemas financeiros é uma experiência desgastante.
E aí, vai comprar? Mas lembre de se perguntar? Preciso? Vou usar? É barato?