Sexta-feira, 13! As bruxas estarão soltas? Nos últimos tempos, as desgraças não escolhem mais uma data específica. Em qualquer dia pode haver um grande azar a nos espreitar sorrateiramente. Lembro de uma colega supersticiosa, que costumava cercar-se de rezas e patuás para enfrentar esse dia. Certa vez insistiu para que um amigo que tínhamos em comum, um sujeito quieto, meio depressivo, que enfeitasse o apartamento com 13 rosas brancas. E ainda colocasse um espelho na porta de entrada. “As rosas puras, filtrariam o mal. E o espelho refletiria más vibrações”, garantia ela com ares de feiticeira.
O sujeito, que andava um tanto traumatizado após uma separação litigiosa, decidiu seguir as recomendações. Comprou um espelho de moldura bacana e a pregou à porta. As rosas couberam perfeitamente em vaso antigo esquecido pela ex-mulher. Pronto! Estaria neutralizando qualquer resquício negativo do passado. Na sexta-feira 13, trabalhou sem incidentes, mas influenciado pela amiga supersticiosa, chegou mais cedo em casa. Tomou uma ducha. para afastar os maus humores do dia. Quando se atirou no sofá, ouviu risos abafados próximos a porta. Seriam os demônios refletidos no espelho?
Abriu a porta bruscamente e acabou por dar um brutal susto na vizinha do 301. A moça passava batom nos lábios, aproveitando o espelho de espantar bruxas. Ambos riram e do riso, passaram a um bate-papo típico de quem está só às vésperas do final de semana. Em pé estava desconfortável e ele a convidou para entrar. Ambos descasados, solitários… Vocês sabem o que acabou acontecendo, não é? No início da madrugada ela voltou para casa levando uma rosa branca.
Entusiasmado, o vizinho solitário ligou dizendo que o feitiço da vizinha fora além da proteção prometida. Tentei colocar um toque de medo e provoquei: “Uma bruxa de verdade, não precisa de verrugas no nariz. Bruxa moderna sabe beijar muito bem com lábios vermelhos, carnudos. Não usam vassouras voadoras, entram com salto alto e charme e tem a porta aberta pela própria vítima”.
É deste jeito que atravessam espelhos, continuei. Ao roubar uma rosa, ela quebrava o encanto ou ainda melhor, o revertia totalmente. Mas como dizem, o prazer e o perigo andam sempre juntos. A gente só não precisa facilitar tanto, não é? É o que penso quando os vejo após anos de convívio, cercados de filhos e compras no supermercado. Sorte ou azar do dia 13? Vocês decidam, leitores.