Ultimamente volto com maior frequência a Arroio do Meio. São as chamadas “visitas de médico”, como se dizia antigamente que faço à minha mãe. Saio de Porto Alegre por volta das 9h e sou recebido com um chimarrão novinho, bolo de chocolate e cuca de coco, consumidos com parcimônia. Afinal, pontualmente ao meio-dia se inicia a orgia gastronômica.
O fim de qualquer dieta esbarra diante da enorme forma levada ao forno com pelo menos três tipos de carne (costela ou lombo suíno, vazio ou picanha bovina, e sobrecoxas de galinha com tempero especial). Para aumentar a tentação, dona Gerti Jasper acrescenta batatas a vapor com generosas porções de cebolas douradas, perfumadas. Tudo vem acompanhado de salada de maionese e massa caseira. Para arrematar vislumbro três variedades de sobremesa. Todas da lavra da melhor cozinheira do Vale do Taquari!
Depois, não resta alternativa: saio para caminhar. Ninguém é de ferro. E geralmente o dia ensolarado não pode ser desperdiçado com uma sesta. Gosto de sentar na Praça Flores da Cunha, que curiosamente guarda a Carta-Testamento de Getúlio Vargas. Até às 13h30min tudo é calmaria. Por volta das 13h25min começa o frenesi de carros, motos e de gente rumo à abertura do comércio.
Preguiçosamente desço a Dr. João Carlos Machado até o trevo, alternando os lados da calçada. Observo o comportamento das pessoas, as gurias saindo do “instituto de beleza” – como se dizia na minha época de guri – sem tirar os olhos do esmalte que ilumina as unhas. Supermercados e açougues quase sempre estão lotados. Assim como as lojas – grandes e menores – repletas de ofertas, facilidades de pagamento e tentadoras novidades.
Por volta das 14h30min volto à casa da minha mãe. Linguiça caseira ou salamito, queijo, cuca, bolo e café passado na hora jazem sobre a mesa. É uma tortura de aromas irresistíveis. Não resisto e aumento o total de calorias acumuladas na terra natal. Antes do retorno a Porto Alegre é preciso acomodar guloseimas, frutas, verduras e uma infinidade de gentilezas típicas e únicas proporcionadas pelo carinho de uma mãe.
Nos mais de cem quilômetros que me separaram de casa penso em como é sempre bom retornar para rever amigos, lembrar episódios, reconstruir personagens marcados de maneira indelével na mente e no coração. Muitos partiram precocemente arrancando lágrimas. Outros mantêm família, emprego ou uma aposentadoria saudável
Voltar não é saudosismo. É fazer do presente uma estrada sólida em direção ao futuro com base em valores herdados e gestados no passado. Por isso, é sempre ótimo revisitar a terra natal, lugar tão diferente que escolhi para viver, morar e formar minha família.