Algumas pessoas têm a especial habilidade de valorizar dramas pessoais além da conta. Acompanhei nas redes sociais uma conversa neste rumo. Era tal de “ninguém me entende, só acontece comigo e o que eu fiz para merecer isso” que chegava a dar nojo a quem curtia, ou descurtia, a tal conversa. A mulher reclamava que o marido adquirira uma bactéria ultra resistente. “Tu nem sabe, gastamos uma fortuna, ele emagreceu, desconfiei até de doença sexualmente transmissível. Justo ele, que mal dá conta em casa”, detonou a esposa.
E navegando na autopiedade dizia que em uma outra vida devia ter sido uma pecadora insana para sofrer tanto! A lista de infortúnios cotidianos era interminável: falta de remédios, filas intermináveis para consultas com especialistas milionários, como se fosse a única a viver tais desconfortos. A todo comentário solidário que recebia, respondia com relatos escabrosos, ou nem tanto, de seu dia a dia à beira do leito hospitalar.
Isso foi até uma de suas amigas perguntar, talvez irritada com essa mania de se tornar “a maior vítima do mundo”, sobre o verdadeiro estado do esposo já que ela estava podendo acessar a internet. E a lamurienta precisou reconhecer que, finalmente, haviam encontrado uma medicação eficiente e o organismo do infeliz reagia positivamente. Até uns quilinhos ganhara. Graças a Deus! “Viu? Nem tudo é problema em tua vida. Com fé sempre se encontra uma solução”, disse a amiga otimista.
E mesmo alertando que não gostava de colocar temas tristes nas redes sociais, essa mesma amiga confidenciou ao grupo um drama pessoal bem recente. “Vocês sabem que desde a morte de meu marido, nunca mais tive outro relacionamento.” Mas no ano passado, conhecera “um senhor muito simpático”, em uma excursão ao Nordeste. E da conversa descompromissada, iniciou uma amizade mais íntima. Um namoro discreto como o de muita gente madura, que já não acreditava mais nisso. Em poucos meses eram parceiros em cinemas, jantares e viagens.
Não escondiam nada, mas também não revelavam a relação para os outros. Isso durou até o dia em que, repentinamente, perderam contato. Ela ligou várias vezes e nada! Foi até ao apartamento dele e o zelador repetiu o que ela já sabia: estava em visita a filha, em Belo Horizonte. Mas por que não atendia? Ou ligara como haviam combinado? Na semana passada, veio a resposta. A filha, pedindo desculpas por não retornar as ligações. O celular fora localizado, totalmente desmontado, debaixo da cama.
Relatou, entre lágrimas, que o pai sofrera um infarto fulminante. “Quer notícia mais dura e triste? Tu tens ainda teu marido e, eu, de alguma maneira, voltei a ser viúva”. A outra, fatalista como sempre, manifestou seu pesar, é claro. Mas contra-atacou:
“Pelo menos tu não viveu a angústia que ainda enfrento. E se o tratamento não der certo?” A conversa acabou ali mesmo. A dor maior sempre será do egoísta que se faz de vítima. Tenho certeza que meus caros leitores já cruzaram com gente assim. Ou serei eu o único?