Participei de campanhas eleitorais para vereador, prefeito, deputado estadual e federal e também para governador do Estado. É uma experiência fantástica. É possível constatar a mudança das pessoas que sofrem profundas transformações à medida que se aproxima o dia da eleição.
Pacatos cidadãos viram cabos eleitorais furiosos em busca de votos. Usam estratégias que confundem truculência com convencimento. Isso inclui a total incapacidade de diálogo, de reconhecer alguma qualidade nos adversários e, é claro, admitir erros no seu candidato.
As disputas municipais são sempre mais apimentadas. As pessoas conhecem a vida pregressa dos candidatos e de todos os envolvidos. O inimigo mora ao lado, freqüenta o mesmo supermercado, pode ser visto ao lado, ajoelhado na missa de domingo e é parceiro do futebol no fim de semana. O entre o nício da campanha e o anúncio dos eleitos é uma trégua ao contrário. O clima de paz, da boa vizinhança e de parceria desaparece. Dá lugar à beligerância ilimitada.
Como repórter, cobri pleitos onde irmãos se odiavam a ponto de lavar roupa suja familiar através de jornais e emissoras de rádio. Em um município das Missões dois irmãos eram candidatos e disputavam prefeituras de cidades vizinhas, por partidos oponentes. O nível chegou a tal ponto que até o tratamento médico do pai virou argumento.
– Meu irmão é tão ordinário que, ao invés de dar dois comprimidos contra a hipertensão dava um só para economizar. Resultado: nosso pai teve um derrame e vive numa cadeira de rodas – disparou o mais jovem.
A estupidez humana parece infindável ao longo de uma campanha eleitoral
O mano deu o troco. Revelou que o caçula torrou a fortuna da família:.
– Por isso tive de cuidar do nosso pai. O combinado era que ele, sem filhos, seria o responsável. Mas torrou tudo em bebedeiras, jogo e mulheres. Esqueceu do velho e tive que tomar conta – retrucou o ofendido.
A estupidez humana aflora numa campanha eleitoral. Como em todos os segmentos na política há pessoas sem noção de ridículo e de boa educação. A octanagem das disputas estaduais e federais é bem menor. A maioria dos candidatos é desconhecida do eleitor, o que esfria a contenda.
Na era da internet, das ferramentas tecnológicas e de escassez de dinheiro a campanha eleitoral perdeu a aura de disputa corpo a corpo. Sequer os históricos comícios se mantêm na programação. Atualmente os cavaletes que viram lixo e os discursos repetitivos no rádio e na tevê espantam o eleitor que ainda busca um representante.