Quem somos afinal? Extraterrestres ou seres dependentes das coisas terrenas? Seguidamente sou classificado como um sujeito calmo e pacificador. Diante do espelho quase acredito nessa imagem. Na verdade, existe dentro de mim uma agressividade latente, doida para mandar muita gente para bem longe. Colocar todos em uma nave e deixá-los em outra galáxia, onde terão tempo para pensar nas bobagens cotidianas, cometidas às pressas, por puro egoísmo ou desleixo ou até mesmo contágio.
Quem disse que maus humores, teses preconceituosas ou intolerantes não podem ser contraídas inadvertidamente? Psicopatas que dizimam dúzias e depois saem para jantar, terroristas supostamente atendendo mandamentos divinos, justificam àqueles de personalidade instável que, insuflados pelo comportamento doentio alheio, inspiram outros atos, não tão violentos assim, mais igualmente carregados em delitos.
Quem começa batendo carteira pode acabar explodindo bancos! Por isso, toda a calma, toda educação ética, toda a tolerância é bem-vinda. E não pensem que o ser raivoso que habita em mim, de repente explodirá em fúria, massacrando gente com gritos de meias verdades, que corresponderiam a mentiras inteiras. Errar me leva à autocrítica. Evito acumular frustrações de coisas que deixei de fazer por puro medo. Reconheço minhas limitações.
Por exemplo, quando não ousei em questões profissionais, ou domésticas, assustado com os inevitáveis riscos. Eu deveria ter feito isso, assim e assado. Não o fiz e agora me puno sendo um autêntico “mala sem alça” que desnorteia quem me cerca. Ao contrário, assumir a própria fragilidade dá forças para se olhar bem lá no fundo e arrumar as gavetas.
Atitudes desta natureza seguram o monstro insano que habita nas profundezas. Ele apieda-se de minha própria insanidade e libera como camuflagem, o personagem conciliador criado para escapar de atritos inúteis e ainda, de quebra, conquistar algum respeito e admiração. É bom ser reconhecido como um cara legal, do bem e saber que a fera está domesticada.
Para atingir esse nível, é preciso esforço. Ouvir as gentes, quem sabe fazer psicanálise. Todo problemático odeia terapia. E aí, vive maquiado às avessas, carregando o peso de uma carranca, que pode ser odiosa, ou falsamente bela e sedutora, mas que no fundo, apenas destrói e detona pontes que o ligariam à consciência, ao prazer de viver.
É uma espécie de narcisismo às avessas, doentio e infantil, porque, na verdade, o ser bacana, está lá embaixo, sem forças para reagir, sufocado por sentimentos ruins como o egoísmo, a inveja e a ganância.
Pode soar ingênuo tudo isso. Mas é essencial. A fera que habita em mim, o ser extraterrestre, na verdade, é um menino que nunca amadurecerá. Mas que pede que o ensinemos a viver melhor. E quem realmente busca por isso, educa essa eterna criança. É possível, sem gritos, sem chineladas ou rancor.