Eu confesso: sou ouvinte e telespectador assíduo da propaganda eleitoral. Milhões de eleitores jamais ouviram um segundo sequer do horário político. Por isso, fico feliz ao verificar que meus filhos – um casal de 19 e 20 anos – acompanham as propostas e manifestações dos candidatos, além de manter acaloradas discussões durante os debates.
A possibilidade de manifestar opinião de qualquer natureza – das mais coerentes aos maiores absurdos – foi viabilizada através da política e dos políticos. É notória a existência de um enorme contingente de brasileiros desesperançados diante das baixarias que marcaram o bate-boca das últimas semanas. Mas como em todos os segmentos da vida há pessoas bem intencionadas e outros, quase sempre despreparados, incapazes de conviver com o contraditório. Pregam a liberdade de expressão, mas não suportam críticas.
A democracia é um exercício permanente de aprendizado para ouvir conteúdos pouco agradáveis. É lamentável que em plena era da informatização plena um exército de despreparados manipule smartphones para passar o dia ocupados com agressões, xingamentos e ofensas. Pela simples incapacidade de ouvir opiniões diferentes.
O voto é um ato único, particular, marcado pela pessoalidade de um momento único. É um gesto aparentemente simples, mas determinante para o futuro de um Estado ou de uma nação, como vai acontecer domingo. Não existe candidato perfeito, sem erros ao longo da trajetória política ou pessoal. Eles são iguais a nós, eleitores, que possuímos falhas. Por isso ouço e assisto aos programas eleitorais. Faço isso até para angariar argumentos para defender meus preferidos ou para excluir candidatos que jamais me representarão.
“A pior democracia é melhor que a melhor das ditaduras”. Esta frase deve ser lembrada diariamente. Até para não esquecer os anos que hoje nos envergonham e que perduraram por mais de 20 anos no Brasil. Costumo lembrar meus filhos que meu pai, vereador de mandato único e sem salário, não podia receber correligionários do antigo MDB de luz acesa dentro da nossa casa. Os fugidios encontros ocorriam nos fundos, às escuras, tendo este jornalista, então com oito anos, como guardião no portão da frente. “Se o jipe verde-oliva passar duas vezes, nos avisa”, advertia meu pai.
Foi através da política que conquistamos a liberdade plena. Os defeitos são consequência de uma democracia ainda jovem que se aperfeiçoa a cada dia. O contraditório faz parte da melhoria. Participar do processo eleitoral é fundamental. Mesmo com as mazelas estampadas pela mídia. Graças ao voto se pode escrever, dizer e pregar nossas ideias sem censura.
Não vamos desperdiçar mais uma oportunidade de fortalecer a democracia, construída com o esforço de milhares e o sacrifício de muitas pessoas.