Alberto casou há 25 anos. Foi um namoro longo, quase 10 anos, incluindo o tradicional noivado. Três filhos coroaram a relação com Nádia Maria, moça prendada, advogada esforçada que conquistou o diploma numa universidade pública. A gurizada, já acima dos 18 anos, andava desconfiada que a aparente perfeição do casal era apenas fachada.
Os finais de semana, antigamente agitados, feneceram. Sumiram as viagens para a praia ou interior. Os feriadões agora se arrastam, contrastando com as esticadas a Buenos Aires, Punta Del Este. Apesar do esfriamento, nenhum deles tem relacionamentos paralelos.
– O amor simplesmente acabou. A relação esfriou. Tudo virou rotina cumprida somente para manter as aparências – gemeu Alberto enquanto sorvia o quinto chope num movimentado bar da moda.
Para ele, profissional de sucesso na área de comunicação, o esforço para dotar a casa de todos os confortos de nada serviu.
– Nunca moramos tão bem. Temos do bom e do melhor na despensa, dois carros na garagem, ótimo saldo no banco… Quando comprávamos tudo em suaves prestações, juntando “os pilas”, éramos felizes – suspirou com os olhos fixos no teto.
Na era das redes sociais, o amor está em oferta permanentemente, sob as mais variadas formas
Conheço o casal há mais de 20 anos. Passamos férias juntos, viajamos pela Europa, conhecemos a Disney, dançamos tango na Argentina, colecionamos fotos das águas azuladas do Caribe. Parecia o casal perfeito. Eles se completavam, sempre cheios de carinhos e atenções.
Aos poucos virou pó o esforço de agrados mútuos para criar novidades, tirar um carinho da cartola ou um beijo da manga do colete. O cansaço afetivo, inimigo insidioso, perigoso e furtivo, minou pela raiz o casamento outrora perfeito, qualidade que se mostra inexistente no quesito relacionamento.
A situação atual do casal constrange os amigos, acostumados a convites para noitadas em bares ou jantares entre casais. A “Confraria do Rango”, onde o cardápio ficava por conta dos donos da casa, murchou. Há constrangimento em todo canto. Todos querem ajudar, mas o inusitado da situação trava os esforços para que Alberto e Nádia Maria voltem a ser o casal típico do comercial de margarina.
Ele não consegue se divertir sozinho, desacostumado à vida sem coleira. Ela, ao contrário, parece à vontade no personagem de mulher liberada para recuperar o tempo perdido e, talvez, reencontrar um amor para chamar de seu.
Na era das redes sociais, o amor está em oferta permanentemente, sob as mais variadas formas. Basta escolher, clicar e correr os riscos de uma adesão no escuro. O mergulho no casamento parece definitivamente fadado ao tédio?