Em casa, convalescendo de uma pequena cirurgia corretiva, meu filho Tárik resolveu zapear novidades na televisão. Lá pelas tantas, se deteve na programação da TV Câmara. E impressionou-se negativamente com o que viu. Tanto que postou um comentário bem interessante no Facebook, detendo-se nos tipos que por lá aparecem, não por meio de varinha de condão mágico, mas eleitos por todos nós.
“Quão assustadores são os protótipos de debates dos vereadores, marcados por expressões cheias de sangue e dialética oprobriosa. Na minha cabeça, ressoam – e se atormentam – os planos dos homens e os meus. Mas eu ainda acredito, mesmo sem ter todos conceitos, em ideias (do grego Idea, “forma, amostra”) que poetas, romancistas, músicos, filósofos, profetas e anônimos me ensinaram. Será que esse caminho de descaminhos ainda pode ser trilhado?”
Neste domingo, mais uma vez, vamos aos votos. Entendo meu filho e sua angústia tão bem argumentada. Os debates mostraram uma ira, uma raiva insana a atropelar projetos. Mas tenho certeza que se levados fossem, poetas e pensadores, a tais encontros, nada muito diferente aconteceria. A falta de tato existencial, a fala rude, ou movida por interesses escusos, é um risco a todas as áreas da sociedade.
Eu vivo em Porto Alegre, cidade do Orçamento Participativo, e vos digo, leitores: o que escuto nas plenárias, os arranjos feitos na hora das decisões por projetos, ou na definição de conselheiros, porta-vozes oficiais das demandas populares, também arrepiariam meu filho. O que nos falta, talvez, seja colocar em prática os conceitos filosóficos de tantas canções ou poesias.
Portanto não vamos confundir as coisas. Filósofos, músicos ou poetas, se levados à tribuna política, sofrerão o mesmo impacto tentador e sedutor do poder. Dependerá da personalidade de cada um, seja ele um virtuoso pianista ou dedicado agricultor. Os limites entre negociações e negociatas, entre ideologia e ética, são fundamentais para definir o tom dos discursos nas câmaras e nos executivos de municípios, estados e país.
Não aconselho ninguém a anular voto como sinal de protesto, ou decepção. Pensemos que existem maneiras melhores de participar da vida política e social de uma nação. Vote bem, no próximo domingo. E depois fiscalize.
É este olhar que muda o tom dos discursos, que faz de parcerias não apenas projetos de poder, mas algo maior e mais democrático. Um país tão grande, tão rico, merece uma programação melhor, não apenas nos meios de comunicação política, mas em todos espaços por onde circulamos.