Está tão morna essa campanha eleitoral, que chega a ser um tédio acompanhar os debates pela televisão. Infelizmente o momento de maior impacto foi a prematura morte de um dos candidatos à presidência. Mas a tragédia também parece ter sido engolida por essa paquidérmica disposição para um clima falsamente pacífico. Falsamente é claro, pois entre militantes a tensão, o estresse é imenso. Poucos dias antes da votação, o que escuto nas rádios é um noticiário igualmente tépido e requentado. Parece que uma espécie de mediocridade ideológica assombra a nação brasileira às vésperas de mais um pleito. Talvez resquícios das denúncias de corrupção, dos que foram castigados ou tiveram penas relaxadas pela justiça. Tudo morno, embora os crimes sejam gravíssimos.
O que realmente atrapalha as eleições são as placas nas ruas? Ou a poluição dos “santinhos” nas calçadas? Ou o que mais nos incomoda não seria o pouco tempo para se debater e ouvir propostas? Deixemos a sujeira das maracutaias para uma discussão firme e que, efetivamente, puna os que se valem de recursos públicos. Cobremos do judiciário com o mesmo vigor que o fazemos contra os políticos eleitos. Então, votar passa a ser uma pedra certeira arremessada contra os telhados de vidro dos maus políticos.
O mais importante, o realmente decisivo neste momento, é que todos nós, eleitores compulsórios, nos concentremos neste verdadeiro casamento político para os próximos quatro anos (oito no caso dos senadores) e façamos as escolhas que nos pareçam as mais plausíveis. Eu sei, é difícil escolher um bom deputado entre tantos que se espremem nestes ralos horários políticos. Mas vamos consultar nossos amigos, ver a história destes que buscam vagas no executivo e legislativo. Sempre haverá algum com ideias que sintonizem com nossas ideias. Não junte um santinho do chão, na última hora, ou anule seu voto. É democrático? Sim, eu sei que é, mas precisamos nos posicionar melhor. Escolher nomes, usar a cabeça para pensar politicamente no futuro.
Porque insisto nisso? Porque a corrupção, a criminalidade que nos assalta nas ruas, os serviços públicos que não funcionam e mesmo entre setores da iniciativa privada – o comércio e a indústria – que tantas vezes nos oferece produtos de baixo padrão, não vivem neste clima morno. Estão lá a ferver de ansiedade para nos passar a perna, dar um bote. Afinal, estamos quietos, sem ação. E passam a explorar, tomar na mão grande, oferecendo vidro lascado em troca de nossa melhor joia, que é a capacidade de reagir, de lutar.
Deixemos de ser um bando de acomodados que pensa mais no churrasco que fará após o voto, ou justificará para ir visitar a casa na praia. Por favor! Temos tempo para tudo. Passemos a agir como cidadãos de fato. Tentamos acertar em um bom candidato. Depois é fiscalizar, cobrar não apenas as promessas de campanha, mas as verdadeiras demandas da nossa ainda tão frágil sociedade civil. Vamos gente! Eu amo minha família, meus amigos. Respeito a luta insana por uma vida melhor de meus colegas de trabalho. Não posso estragar tudo, jogar na valeta esses sentimentos bonitos, com um voto tipo mate lavado.
Vamos com disposição para mudar. Com muito amor próprio, pois para quem se gosta, a vida se torna mais viva. Sejamos como a água ideal para o chimarrão, que não queima a erva, porque está na temperatura certa. É assim, sem ferver, mas na temperatura certa, que se vota. Vá lá, não desperdice o seu grande momento de mudar tudo! A hora é esta. O resto é baderna.

