Sou do tempo em que as pessoas tinham receio de falar o nome de uma doença maldita: câncer. Tive um colega de aula que “ficou de castigo” – como se dizia antigamente – ao ser proibido de ir às reuniões dançantes por um mês. Ele apenas proferiu o termo amaldiçoado num almoço dominical. A punição parecia justa. Nada menos que cinco parentes próximos haviam padecido do mal que enluta milhões de famílias a cada ano no mundo todo.
Leio diariamente os obituários publicados em jornais. Não se trata de um prazer mórbido, sadismo. Pelo contrário. Quem me conhece sabe que os amigos dispõem de lugar cativo no lado esquerdo do peito. Aos 54 anos, os últimos meses têm sido marcados por perdas afetivas que me abalaram. E nesta rotina de leitura chama a atenção o contingente de pessoas falecidas em consequência do câncer, juntamente com os males do coração.
A cada passamento aumenta minha indignação contra a nossa impotência diante da doença. Sou conhecedor dos avanços conquistados pelo exército de abnegados pesquisadores das causas do câncer. As drogas têm tido avanços impressionantes minimizando os efeitos da enfermidade, permitindo que os pacientes tenham uma vida próxima da normalidade.
Mesmo assim – e assumo aqui a minha total ignorância no assunto – me causa profunda tristeza o número de pessoas que padecem fatalmente deste mal. A descoberta da doença, ainda em estágio inicial, é considerada a arma mais eficaz na luta pela cura, mas nem sempre isso é possível.
O esforço na busca da cura e de drogas eficientes é arrebatador
A resistência à realização de exames preventivos beira a irracionalidade. Milhões de brasileiros poderiam realizar baterias de testes sem custo algum, acessando apenas o sistema de saúde que, através do SUS, permite este valioso antídoto à evolução da enfermidade. “Quem procura acha”, costumam dizer os que fogem dos laboratórios como o diabo da cruz.
O esforço generalizado na busca de curas e de medicamentos eficientes no combate ao desenvolvimento da doença é arrebatador. Milhões de pesquisadores dedicam suas vidas aos avanços, mas as mutações do câncer parecem um desafio invencível. Enquanto isso segue o sofrimento que lota os hospitais.
Sorrateira, a enfermidade – que chegou a ser considerada o mal do século em anos passados – é fatalmente democrática: atinge pobres, ricos, jovens, idosos e crianças de ambos os sexos, sem discriminação. Consolida-se, ao longo do tempo, como um dos maiores desafios de todos os tempos, alcançando a proeza de unir técnicos de países historicamente rivais que, inclusive, se enfrentaram em guerras de âmbito mundial.