Lembrei desta história, já citada anteriormente neste espaço, ao ouvir sobre as repercussões do projeto de aposentadoria para os deputados gaúchos. Não entrarei no mérito. Só deixo a história de uma amiga, sem supersalários, poupanças no exterior, e com uma aposentadoria típica de brasileiro, a lhe permitir apenas quitar as contas do cotidiano. Excelente profissional, reforçava o orçamento com um trabalho autônomo. Mas as oportunidades andavam ralas. É a crise! Todos seus clientes – de uma hora para outra – haviam sido transferidos para os projetos já orçados para o ano seguinte. Mas as contas, os juros do cheque especial?
Depois de saldar o aluguel de novembro, lhe restou apenas um rombo negativo cercado de muitos juros. Estava tão desesperada, que nem percebeu, vindo na direção contrária, uma ex-colega. Abraçaram-se e quando a outra perguntou como andava a vida, desabou! Que vida? Não suportava mais a pressão do cotidiano. Sempre fora uma guerreira declarada. Exemplo de sobrevivência, agora queria sua cota de sossego. Será que seria assim até o fim? Fizera tudo errado? Não tinha mais energia para tanto revés, desabafou.
As duas, embora vivessem próximas, nunca se cruzavam. Típico nas cidades dos apartamentos e grades. Mas aquele momento acabou decisivo para acionar uma corrente imediata de solidariedade. Sensibilizada, a ex-colega chegou ao trabalho e comentou a situação. Em questão de minutos arrecadou uma quantia razoável, produziu um imenso cartão de Natal carregado em mensagens de apoio e, dias depois, o entregaram.
Ela que se achava isolada, de uma hora para outra, tinha a certeza de não estar sozinha. De que a vida sofrida, injusta em muitos momentos, também é feita de afeto e reconhecimento. Todos ali, de uma forma ou outra haviam se colocado em seu lugar.
Seja qual for a nossa orientação religiosa, esse período de estresse, de cansaço após um ano sempre difícil, não impede que se olhe, ao menos uma vez, para o lado e se promova um ato singelo como este, ocorrido na vida real e muito mais intenso do que qualquer filme institucional, feito sob medida para nos fazer chorar.
Bem ao nosso lado pode estar a oportunidade de se promover um Natal inesquecível para alguém. Faça uma luz se acender. Basta você pensar e fazer por merecer. Inspire profundamente, embriague-se de cor, imagine intensamente que o mundo é paz, luz e amor. Se é o que deseja, o que o coração almeja, se realizará.