O problema não é o faz de conta do Papai Noel que provocaria, reclamam a ausência do mais autêntico sentimento cristão. O ano finda com todos os revezes habituais, os cansaços, o 13º que quase salva a pátria da maioria, mas que deixa sempre espaço para novos endividamentos. O que eu vejo de ruim são velhas formas de agir repetidas ano após ano, intolerâncias que se levadas a sério pelo Bom Velhinho, provocariam um corte radical na distribuição de presentes. Mas ele não tem esse poder. Quem se autopresenteia somos nós. Se acertamos ou erramos, somos o nosso próprio tribunal. Condenamos os outros sem medo da varinha de marmelo que, em tempos modernos, é politicamente incorreta.
Então, o cerne do Natal tranquilo, está ali, no presépio – na árvore montada – a partir das nossas próprias atitudes – a partir da família! E o que vejo é gente reclamando de velhas chagas que não permitem a cura. Permanecem lá, cutucando sentimentos vis, pobres e egoístas. O primo chato, o irmão mimado, o cunhado inoportuno, a esposa neurótica, o marido instável. Serão todos tão despidos de virtudes assim? E aí, os que reclamam do comércio – que se é bom, precisa faturar mesmo – reclamam dos amigos e seus encontros cansativos de final de ano. É chato celebrar? Preferimos nos esconder neste mundinho baixo astral, esperando a cura por meio de terceiros que, obviamente não aliviam dor alguma. Criam novas luxações.
Os natais de minha infância eram mágicos e estranhos. Às vezes reinava uma energia sombria. Rixas domésticas, tolices, na maioria das vezes. Mas esses azedumes de humor se refletiam como carrancas nas bolas coloridas da árvore de Natal, eram um tempero desnecessário na ceia. Quanto “Feliz Natal” cheio de tristeza e rancor devo ter recebido. Confesso que nada disso derrubou meu encanto por esses dias. Casei, descasei, perdi empregos, mas refiz tudo sem artificialismos. E meus natais, vibram em lembranças bonitas.
Insisto e ainda continuo assim, em busca do Natal perfeito. Lembro de um amigo que certa vez, por birra, fugiu da celebração natalina com a família em função de uma cizânia doméstica. Eu fiquei chocado! Imagina como ficaram a esposa, os filhos e os familiares dele. Como não celebrar com aqueles que dependem do teu equilíbrio, teu bom senso, em troca de um ato tão desproporcional? O Natal é a melhor oportunidade para se abandonar os “frus-frus” existenciais, renovar a fé e reforçar parcerias afetivas.
Sem frescuras, sem preconceitos. Bateu a depressão, está magoadinho com a vida? Faça algo positivo, busque uma instituição séria e doe brinquedos, por exemplo, para crianças carentes. Mas não esqueça que os seus, também podem estar esperando pelo presente maior, pelo grande Papai Noel que pode levar paz, harmonia e amor. Escreva uma carta diretamente do frio polar que vive nos pensamentos ruins. O Bom Velhinho sabe aquecer a alma de quem tem boa vontade.
Fugir não resolve. Por toda a culpa na “sociedade indiferente e fria”, também não. Chega deste rancor imaturo, típico de criança que precisa de um puxão de orelhas. Que precisa aprender a crescer na adversidade. Eu não sou um homem santo, carrego medos, tristezas, mas jamais abandono o ninho que, afinal das contas, eu mesmo construí. É para eles, e por eles, que busco a cura. Assim, Papai Noel, seja bem-vindo!