Eu brincava com armas de brinquedo da Estrela, réplicas bonitas inspiradas nos grandes filmes de faroeste, ou pistolas tipo agente secreto. Todas feitas em ferro. É claro, eu nunca queria ser o bandido. Meus inimigos, ou se entregavam, ou sucumbiam a minha pontaria alimentada por uma saraivada de balas de goma. Chegava o Natal e meu sonho de consumo era um revólver novo igual ao dos mocinhos da época – Waytt Earp, Bat Masterson, Billy The Kid e outros. Coldre duplo era o top! Definitivamente eu seria o mais rápido da rua.
O cheiro das espoletas de pólvora dava um toque de realidade às cenas imaginárias. O problema era achar um amigo que fizesse a vez do bandido. Ninguém queria assaltar bancos, diligências ou senhoritas indefesas. A combinação era essa: quem “morresse” no tiroteio, era rebaixado a condição de bandido. Não tinha guri que gostasse de morrer herói e encarnar bandido. Hoje, não se fabricam mais essas armas. Não é politicamente correto, incita a violência, dizem. E quem sou para discordar.
O mundo moderno mudou a fantasia de muitas crianças. Muitas lidam com armas de verdade – pistolas modernas, fuzis enormes que disparam balas sanguentas. E nenhuma destas crianças tem problemas em ser o bandido da vez. Todas acham que o crime é o caminho da fortuna. E as mocinhas que se cuidem! Quem quer ser policial, ganhar pouco e ainda, como muitas vezes assistimos, viver de conchavo com os grandes bandos. As armas da Estrela acabaram em museus, ou nas mãos de muito ladrão “chinelo” que engana gente distraída e nem tiros de espoleta dispara.
A proibição destes polêmicos brinquedos, não evitou a escalada de violência. As cidades cresceram, os bandidos de antigamente, éticos até certo ponto – não assaltavam velhinhas, respeitavam donzelas e nunca atiravam pelas costas de quem conseguisse fugir – foram banidos por hordas de desajustados que odeiam a própria imagem e transferem esse sentimento a seus objetivos sempre muito cruéis. Eu andava com minhas pistolas em nome da lei e da ordem. Era essa a minha fantasia. E assim, sabia que deveria respeitar o próximo. Uma coisa era a brincadeira, outra a vida real. Hoje, está tudo muito além da realidade e o sonho de ser herói, virou um pesadelo onde bandidos de verdade dão as cartas. Os mocinhos perderam o duelo, lamentavelmente.