Tenho a sensação de que o ano ainda não acabou. Sei lá, estamos em algum período medieval, a virada de séculos emperrou, ou algo assim. Eu me recuso a crer que a assustadora repetição de fatos insossos, às vezes e assustadores, quase sempre, tenham virado a página nos últimos doze meses. Eu sei que as eleições não mudaram o quadro político e econômico do país e no resto do mundo, tudo anda com jeito de notícia velha. Mal iniciou a semana deste período que dizem ser 2015 e tudo que vejo são as mesmas mortes no trânsito, ou mesmos desmandos ou projetos previsíveis nas esferas políticas, econômicas e culturais.
Por exemplo, três homens atacaram a sede da revista Charlie Hebdo, em Paris e pelo que sei, mataram covardemente 12 pessoas, chargistas como Woliski – com suas tiras que mesclavam erotismo e política e Stephane Charbonnier, o “Charb”; Jean Cabut, o “Cabu”; e Tignous. Eram radicais sim. Mas da liberdade e faziam tudo com bom humor. Mas o terrorismo não tem senso de humor, apenas ódio. No cotidiano nosso de cada dia, as coisas seguem um ritmo repetitivo entre o bem o mal. Rotina que se repete igual aos anos passados. Então, mudamos mesmo de ano? Está tudo igual. Até mesmo o pior é o mesmo.
O tal calendário que o Imperador Julio Cesar inventou para nos atazanar, encher nossos dezembros de fogos de artifício, porres homéricos e retrospectivas idênticas em sua essência, é uma fraude. O tempo é apenas um conceito metafísico. Como diria o escritor e também humorista, Leon Eliachar – falecido de causas naturais, não sei bem quando – a cada final de ano, mandamos as mesmas mensagens, para as mesmas pessoas, certos de que estas são as mesmas e nós também.
Seremos nós os mesmos? Ou o ano não muda e mudamos nós? O ano não acabou! Estamos em 2012/2013 ou, no mínimo, iniciando 2014. O que aconteceu neste meio tempo, foi algo que talvez apenas alguém como Stephen Hawking possa explicar. Aos 21 anos ele foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, mas está prestes a completar 73 anos! Mentira, dirão meus desconfiados botões. Eu estou com 62 e nos últimos meses vi sumir do mapa existencial dezenas de amigos mais jovens. Para eles, não existe mais nenhuma dúvida: o tempo é a transformação óbvia de matéria em pó! Hawkin, por exemplo, é ateu. Ou era.
E cá entre nós, quem o condenaria? Mas a genialidade científica dele avança de forma divina, como as coisas bonitas e singelas que meus amigos falecidos deixaram. Estas lembranças não dependem do tempo, Estarão aqui independente de qualquer virada de ano. Abrirão ou fecharão portas.
E tudo que posso dizer ao concluir esse texto sem pé, nem data certa, é que se é para mudar e entrar no ano novo verdadeiro é preciso não prometer perder dez quilos, não estourar o limite do cartão do crédito, mas administrar melhor o cotidiano. Isso é o faz a roda do tempo completar mais uma volta. Rumos contrários às ações comodistas! O novo não vem de brinde na agenda, mas no compromisso assumido e factível. Estamos em 2015? Sei lá, até agora, a cara é de um calendário às avessas, onde o futuro tem ares de passado. Aliás, muito mal passado.