Reluto antes de começar a acompanhar uma novela. Não é preciso pensar muito para saber os motivos. Aliás, novela é um passatempo que não exige o uso de muita massa cinzenta. Ficar por fora das armadilhas, maldades e sacanagens que proliferam na telinha deixa a gente sem assunto na fila do super e do banco.
Para provar que não é preciso ter um super QI para entender uma novela basta reparar quantos personagens, num único capítulo, são flagrados falando sozinhos? Se a trama fosse verossímil ou razoavelmente inteligente vocês acham que tantas pessoas precisaram parecer “loucos de pedras” e conversar com elas mesmas?
No último capítulo que assisti, nada menos que cinco integrantes do elenco olharam fixamente para a câmera para iniciar um monólogo surrealista. Alguns têm tanto talento (!) que até conseguem discutir… com eles mesmos! Uma especialidade digna de um Oscar, não acham?
Outra coisa: mais da metade dos personagens não trabalha, ou seja, não teria renda para manter o padrão de vida – digno de jogadores brasileiros que jogam na Europa – que ostenta todas as noites em rede nacional. As viagens são algo trivial. Seja para o litoral carioca, para o nordeste ou para esquiar nas nevascas do Velho Mundo.
Não tenho estômago para acompanhar idas e vindas, onde tanta gente faz maldades nas 24 horas do dia…
No caso da novela Império, atração da Globo, o personagem principal – o Comendador José Alfredo de Medeiros – é um empresário ricaço, ultraconhecido em todo o país, mas que anda por aí como se fosse um mortal comum, daqueles bem pobre, do tipo que ninguém liga se encontrar num boteco bebericando uma purinha com seu motorista/capanga/confidente.
Sem falar uma palavra de francês – língua oficial de Genebra – Cristina, a mocinha – pega o primeiro voo para reaver a grana do pai ingrato que a abandonou, mas foi perdoado. A tadinha também não arranha nada de inglês, língua universal, mas o poder do autor supera as barreiras da comunicação e faz dela uma heroína poliglota… embora tropece até no português.
Mas como se diz na teledramaturgia, “novela existe para fazer o telespectador sonhar, viajar na maionese, viajar pela imaginação, criar seu próprio enredo”, embora o desfecho seja um detalhe (!) imposto pelo autor.
Apesar de toda a boa vontade que tenho com as tramas do plim-plim, não tenho estômago para acompanhar seis meses de idas e vindas onde tanta gente fica 24 horas por dia urdindo maldades contra Deus e o mundo. Será que, na vida real, existe gente tão ruim?