O interesse de alguns haitianos em aprender o português (matéria veiculada no AT no dia 24 de dezembro de 2014), fez despertar um antigo desejo da professora Denise Scheid.
Desde o dia 06 de janeiro ela leciona para 17 haitianos, entre 21 e 50 anos de idade, divididos em duas turmas: uma pela manhã e outra à noite nas segundas, terças e quintas-feiras, na sala de catequese da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Conforme Denise, a ideia inicial era dar aula um dia por semana para cada turma, mas os alunos solicitaram dois dias e depois três por semana. “Alguns deles vieram conversar hoje (terça-feira) pela manhã e solicitaram a abertura de uma nova turma, pela tarde; se houver o número suficiente de interessados, estes também serão atendidos”.
A vontade em ensinar a Língua Portuguesa vem há quase dois anos, quando os primeiros haitianos chegaram a Arroio do Meio. Seria um projeto vinculado à paróquia, que não vingou na época. “Com a reportagem do AT na véspera do Natal, na noite do dia 24 de dezembro, o padre Alfonso, disse que se lembrou do projeto e pediu se eu toparia levá-lo à frente. Aceitei na hora e, no dia seguinte, fiz contato com um haitiano que apareceu na reportagem e havia deixado seu número de celular”, conta Denise.
As aulas são planejadas por temas como alimentação, vestuário, profissões, partes da casa. Em uma delas, quando se trabalhou o vocabulário de alimentação, a turma da manhã foi ao mercado para conhecer e aprender sobre os produtos. Já com a turma da noite, ela levou itens da geladeira e despensa da casa para que os alunos conhecessem e aprendessem os nomes para facilitar a comunicação e escrita.
“Com o vocabulário introduzo os verbos que se relacionam ao tema (alimentos – comer, beber, cozinhar) e outros aspectos gramaticais. Para ensinar os nomes das peças de uma casa, apresentei uma planta baixa para identificarmos os espaços e levei folders de uma loja de móveis e eletrodomésticos para perceber o que se usa em cada cômodo”, explica.
Quanto à comunicação entre aluno e professor, Denise conta que as turmas apresentam alunos com maior e menor fluência na fala do português, dependendo do tempo que estão no Brasil. Dessa forma, eles foram “misturados” para que os mais experientes auxiliem colegas e ajudem a professora na tradução. “Usamos dicionários de português/francês e tenho uma apostila com as palavras básicas do criollo, idioma que eles também falam. Se necessário, até mímica se usa”.
A principal avaliação desse processo se dará com a percepção do que os alunos estão falando, escrevendo e como está a pronúncia da Língua Portuguesa. Segundo Denise, após cada tema estudado é feito um ditado do vocabulário além de exercícios. Com a ampliação do vocabulário e contato com pequenos textos, a produção da escrita também será intensificada.
A duração total das aulas não está definida e depende do interesse, tempo, disponibilidade e necessidade dos alunos. “Alguns já manifestaram interesse em continuar os estudos no Brasil, inclusive com a possibilidade de fazer um curso superior; então, é claro que necessitarão de mais aulas, sobretudo de gramática e redação”.
Para Denise, esta sem dúvida é uma das melhores experiências de sua vida. “A vontade de aprender, o brilho no olhar dos alunos, o respeito e a gratidão manifestada por eles é a maior recompensa. No segundo dia de aula um aluno disse: ‘Professora, eu estar muito feliz você ensinar português’”.
Para o Padre Alfonso Antoni, muitos haitianos vieram para cá carregando sonhos de um futuro melhor e que acolher os necessitados, no caso, os estrangeiros, é um princípio humanitário e de fé. Frisa que até o momento a paróquia se envolveu pouco com os haitianos, apenas ações isoladas. “As aulas de português é apenas mais uma ação que podemos fazer para ajudar e apoiá-los. Um projeto básico de aprendizado, onde possam aprender a falar e a escrever. Não tem preço que pague ver o brilho nos olhos e a felicidade que eles transmitem ao se sentirem acolhidos e ajudados”.
A professora aproveita a oportunidade para agradecer as pessoas que doaram material para auxiliar nas aulas como livros, revistas e dicionários. Os dicionários são os mais necessários no momento, se houver interesse de alguém doar, pode fazê-lo na casa paroquial.