Ouvi esta semana uma notícia estarrecedora. Mais de 56 milhões de brasileiros – maiores de 18 anos – estão inadimplentes, ou seja, estão como nome sujo na praça. Os dados impressionantes foram divulgados pelo sistema SPC-Serasa. Este índice corresponde a 37% das pessoas maiores de idade no Brasil.
Fiquei impressionado. Afinal, há meses a imprensa repete à exaustão notícias de que a inflação e o desemprego estão em alta e que a economia se encontra em recessão, lastreada por juros estratosféricos, principalmente do cheque especial e de empréstimos. Estes alertas, no entanto, não sensibilizam milhões de consumidores incapazes de controlar seus gastos.
À “incontinência consumista” soma-se ao massacre patrocinado pelos gênios da publicidade. Eles criam comerciais sedutores, produtos com apresentação digna de Hollywood, além de gingles (musiquinhas que identificam produtos e serviço e que “colam” em nossa cabeça), além de condições de pagamento em centenas de parcelas. Estas armadilhas contribuem para transformar pacatos consumidores em caloteiros contumazes.
A incapacidade de pagar em dia cria uma cadeia de consequências altamente prejudiciais a estes consumidores. Sem possibilidade de contrair novos empréstimos para saldar as dívidas antigas, transformam pequenos débitos em bolas de neve que crescem a cada dia. O conselho dos especialistas é procurar os credores, falar com sinceridade e implorar por uma solução negociada.
Preciso? É barato? Vou usar? Se uma resposta destas for “não”… desista!
O consumismo é uma das pragas da modernidade que tem como motor a ostentação e a “cultura do descartável”. Fico impressionado quando vejo jovens de classe C e D falarem sobre a troca de seus celulares e gastarem 2 mil reais num aparelho cujos avanços raramente são utilizados. Alguns conseguem vender os modelos antigos, mas são obrigados a aceitar o que o mercado oferece. Ou seja, quase metade do valor real.
A compra de veículos zero quilômetro obedece a uma lógica semelhante, onde “ostentar o primeiro modelo da garagem do condomínio” é sinônimo de status, poder. Não importa o comprometimento orçamentário, o negócio mal feito pela subavaliação do carro usado ou o fantasma da inadimplência. Exibicionismo é uma característica abundante nas redes sociais. Afinal, lá todos são jovens, bonitos, felizes e só visitam lugares bonitos e que estão na moda.
O endividamento irresponsável é típico de países subdesenvolvidos. A necessidade doentia de adquirir é sinal inequívoco de imaturidade emocional, com estímulos irresistíveis veiculados pela mídia. Por isso, os números do SPC-Serasa, não deveriam provocar tanta surpresa. A cada compra, sugiro fazer três perguntas: Preciso? É barato? Vou usar? Se uma delas for não, desista!