Quantas vezes dizemos coisas sem pensar, sem um mínimo de cuidado com prováveis constrangimentos. Aqueles comentários cotidianos, inocentes, mas danosos. Quantos não perguntaram àquela amiga que não viam faz tempos: “Não me diga que estás grávida!” E são obrigados a ouvir que não é gravidez. “Estou precisando de dieta, obrigado por me alertar”. Pior fiz eu, ao cruzar com uma ex-colega dos tempos de bancário. Esperei quase 40 anos para cometer a mais estúpida mancada.
“Continuas com a mesma elegância de sempre”, elogiei, antes de concluir com aquelas palavras donas de uma total falta de tato. “Este jovem é teu filho?”, para ouvir, com um sorriso desconcertado, que era o marido dela! Os filhos estavam criados. Ela enviuvara e decidira “viver a vida”. Fiquei eu ali, procurando, uma cartola de mágico que me transformasse em asno, sumir instantaneamente.
Outra vez, na saída da escola, todo pimpão como Tárik, meu filho caçula, uma senhora sorriu, simpática, e elogiou “Como é lindo seu netinho”. Nem respondi. Apenas repeti o olhar sem graça de minha ex-colega.
Na semana passada, uma colega concluía uma série de exercícios em uma academia de Porto Alegre, quando o professor – que conversava com um amigo – a provocou sobre a classificação de seu time, o Grêmio, no Campeonato Gaúcho. “Tens razão, estamos mal. Mas pior foi o Inter que teve uma mãozinha do juiz”.
Foi aí que o sujeito que acompanhava a conversa se apresentou. “Muito prazer, Diego Real, árbitro que apitou o jogo do Inter”. Ele sabia que aquilo era apenas comentário de um torcedor. Mas ela sentia-se a rainha do furo, campeã mundial de bola-fora, em um torneio sem arbitragem .
O desculpável é que, na grande maioria destes casos, as pessoas buscam um comentário simpático, lógico e racional. A fulana está barrigudinha, então é gravidez. Afinal era tão magra! Comentários de futebol? Quer coisa mais relax? Uma provocação básica com um amigo. Quem poderia imagina que juiz de futebol, além de não ter mãe, tem amigos e pratica exercícios?
Por essas e outras, ando contido em meus comentários. Até porque a grande maioria adora me classificar como gordo doente. “Ari cuida do coração”. “Teus joelhos vão se desmanchar”. “Te cuida, as mulheres não curtem gordinhos”. “Deve ser difícil comprar roupas, não é?” “Anota esse chá emagrecedor”.
“Vou te passar o telefone de minha nutricionista” e tantas dietas e alertas assustadores. Como se não soubessem que, deliberadamente, escolhi ser gordo. Viver perigosamente. Ora! Que gente sem noção!