Muita gente nasce numa pequena cidade, conclui a formação escolar e se transfere para uma grande metrópole, onde cumpre sólida carreira profissional, constrói família, mas não alimenta a vontade de voltar ao torrão natal. Esta postura, porém, contraria a maioria dos interioranos que anseiam em retornar ao berço sempre que possível.
Integro este último contingente. Sempre que posso volto a Arroio do Meio, onde caminho, reencontro amigos, velhos conhecidos, revivo emoções que remontam o passado. Considero um privilégio ter absorvido inúmeros princípios humanos nessa terra querida.
No bairro Bela Vista, onde nasci, nossos vizinhos eram parentes ou trabalhavam na Bebidas Bela Vista, hoje Bebidas Fruki, fundada por meu avô, Bruno Emílio Kirst. Éramos uma verdadeira confraria, onde a solidariedade era o elo comum. Nascimento de filho, Natal e Ano Novo, aniversários, finais de semana à beira do rio Taquari, tudo, enfim, era compartilhado.
Dali se enraizou a disposição em ajudar a quem necessita. Também aprendi que a simplicidade é o segredo basilar do que chamo “pessoas de bem”. Ao longo da minha vida profissional privei com muitas autoridades nos três poderes do Estado. Descobri – ao contrário do que a maioria imagina – de que os líderes são seres humanos acessíveis, de trato simples, sem “frescuras” ou salamaleques. O que realmente atrapalha são as pessoas que cercam estas celebridades porque se alimentam da necessidade de ostentação.
Caminhadas pela cidade não rendem apenas recordações, mas inspiração de bons exemplos
O retorno às origens serve, também, de alerta constante no combate à soberba. Ao caminhar pela cidade, geralmente aos sábados, depois do almoço, recordo do “campeonato da praça”, onde times como Mini Craques, Bierhaus, The Horse, Concórdia e outros alegram as noites de verão.
Lembro saudoso das reuniões dançantes na garagem de amigos, como o saudoso Tedila (Sérgio Kunz), Joca Vasconcellos ou no Hotel Central (do Betão Theves e sua incrível família). Sem falar das pescarias nos arroios ou dos mergulhos na represa do Seminário Sagrado Coração de Jesus. Vivas continuam os jogos de vôlei, handebol e basquete no Colégio São Miguel, onde aportei, vindo da Escola Luterana São Paulo.
São inesquecíveis os parceiros de aventuras infanto-juvenis e até de incipientes incursões empresariais, como o Bankão – misto de banca de jornais e de revistas e ponto de encontro de amigos -, ideia do genial Jorginho Schmitz, um grande talento comercial.
As vindas a Arroio do Meio não geram apenas saudades. Rendem inspiração a partir de lembranças inolvidáveis de exemplos de caráter, dedicação, amizade e competência em diversas áreas de atuação. Homens e mulheres de sucesso nasceram aqui, onde usufruíram das delícias da adolescência e que estarão para sempre na minha lembrança e no meu coração.