Tenho um amigo muito mal casado. Quase sempre se ouve pelas rodas da vida exatamente o contrário.
– Estou muito bem casado e sou feliz – é a frase mais comum, proferida nos mais diversos ambientes. Mesmo que quase sempre se trate de uma cortina de fumaça para esconder conflitos, abafar brigas furiosas, escamotear desacertos e disfarçar a visível falta crônica de sintonia.
Luiz Antônio é diferente. Não esconde as mazelas da relação que parecia perfeita. Casou com Luíza quando ambos já estavam formados. Ele era engenheiro agrônomo renomado. Ela uma nutricionista com vasta carteira de clientes. Ambos eram autônomos. Não tinham patrão, horários ou limitações salariais.
Nasceu o casal de gêmeos, mexendo com a relação, num divisor de águas. O cansaço, a falta de tempo para o romance, a dissintonia constante e as jornadas de trabalho ampliadas para ampliar o orçamento comprometeram a união. Luiz Antônio passou a sair com os amigos, jogar futebol, pescar ou tomar chope para destilar queixumes conjugais. Trocava de carros, ostentava relógios importados.
Luíza gastava fortunas em salões de beleza e academias de ginástica. Vivia em shoppings onde abusava com roupas, sapatos, bolsas e maquilagem. Tinha obsessão em estar sempre bonita e atraente.
As traições mútuas viraram pauta nas reuniões sociais frequentadas pelo casal. À medida que o teor alcoólico aumentava subia o tom de voz da dupla que disputava um torneio de aventuras calientes.
Aniversário de casamento foi de alto estilo, mas acabou mal
Fugidas à tarde, namoricos fortuitos dentro do carro, escapadelas para motéis próximos ou sessões de cinema marcadas por mãos atrevidas de fazer corar Christian Gray, o galã de 50 Tons de Cinza. O figurino de traições era variado, deplorável e cada vez mais público.
Dispostos a provocar-se sem limites, a dupla resolveu comemorar o 18º aniversário de casamento em alto estilo. Convidaram meio mundo, familiares e colegas de trabalho. Mais de 300 pessoas bebiam, dançavam e se divertiam. Até Luiz Antônio pedir silêncio no microfone da banda que animava a festa.
– Agradeço a presença de todos e comunico que oficialmente estamos nos separando a partir de hoje. É a última vez que vamos nos encontrar. Por isso resolvemos convidar as pessoas que foram importantes em nossas vidas.
Luiza, visivelmente chocada com o discurso, resolveu dar o troco:
– Também agradeço a todos que nos deram tantas alegrias. E quero apresentar o João Vicente, meu namorado há seis meses, com quem vou passar a morar quando a festa terminar.
Vexado, foi a vez do pretenso namorado, amigo de longa data da família, subir ao palco:
– Desculpem… mas a Luiza mentiu. Não vou morar com ela. Prefiro ficar com o Totonho… ele é um gato!
Ele e Luiz Antônio – o Totonho – saíram correndo da festa. De mãos dadas.