Pesquisa do IBGE revela que 7,2 milhões de brasileiros acessam a internet somente por celular ou tablet. Nesta mesma linha, recente estudo encomendado pela Samsung demonstra que os smartphones são mais utilizados para enviar mensagens de texto e ver e produzir vídeos e fotos do que propriamente para falar. Ou seja, estamos falando mais com as mãos, característica dos descendentes italianos, tão conhecida.
As conclusões parecem óbvias para quem observa minimamente o cotidiano. Não existe ambiente onde o dedilhar nervoso de crianças, jovens, adultos e veteranos gere um silêncio estranho em lugares lotados, como bares e restaurantes.
No refeitório onde almoço todos os dias costumo flagrar cenas bizarras. Para cada garfada, muitos colegas de trabalho, em pleno horário de refeição, digitam freneticamente mensagens. Devem ser assuntos de urgência inadiável, de vital importância para o futuro da humanidade.
Qualquer velório é mais barulhento que, por exemplo, as salas de espera dos consultórios médicos. As revistas e jornais nem são tocadas ou furtadas. Fiquei constrangido em rasgar uma notícia de uma publicação médica que me chamou a atenção para uma crônica neste espaço. O ruído do papel sendo rompido atrapalharia os demais pacientes. Ou seria repreendido porque atrapalharia a concentração dos “dedilhantes”.
A tecnologia onipresente. Mas nada substitui o calor e o carinho do contato pessoal
A pesquisa encomendada pela Samsung mostra também que 90% dos usuários de smartphones são fãs das selfies. A volúpia pelos autorretratos é outra praga que não respeita lugar algum. Cheguei a esta conclusão depois das fotos tiradas sem qualquer pudor no sepultamento de Eduardo Campos, candidato à Presidência da República, vítima de acidente aéreo em Santos.
Dia destes, numa incensada churrascaria de Porto Alegre – como diriam os colunistas sociais – flagrei um pobre garçom, obrigado a sorrir enquanto sustentava a bandeja contendo uma bela sobremesa. A cliente, ávida pela foto perfeita, fez o coitado sorrir cinco vezes até a imagem ficar de acordo com a exigência das redes sociais. Afinal, ali só existem pessoas bonitas, bem vestidas que frequentam lugares chiques e fotografam apenas ao lado de celebridades.
Depois de relutar muito aderi ao WhatsApp. A despesa com os torpedos chegou às nuvens, mas confesso que o temor me atormenta desde a adesão. É um medo que ainda me mantém longe do facebook. Dia 7 completo 55 anos. Todos os anos alguns amigos especiais, de longa data, ligam. Confesso: eu ficaria muito decepcionado se, ao invés de ouvir uma voz carinhosa de décadas, recebesse uma mensagem, um torpedo ou um whats de parabéns.
A tecnologia é poderosa. Mas não substitui o calor e o carinho do contato pessoal.