Vale do Taquari – Foi velado durante a sexta-feira (24) na capela mortuária de Bela Vista, o corpo do taxista Valdir Antônio Pittol, 68 anos, morador do Centro, Arroio do Meio. Ele foi o segundo taxista morto em menos de 24 horas na região, entre o fim da tarde de quarta-feira e quinta-feira.
O velório comoveu a comunidade. A categoria, composta por 30 profissionais no município e quase 900 profissionais no Vale do Taquari, realizou manifestações (carreatas) em Lajeado, Estrela, Teutônia, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul e Encantado para alertar as autoridades da falta de segurança, clamando pelo fim da violência. Desde 2010, seis taxistas foram mortos na região.
O corpo de Pittol foi cremado no Crematório Metropolitano Cristo Rei em São Leopoldo, conforme desejo pessoal. Com aproximadamente dez anos na profissão, ele deixa a mulher, dois filhos e uma filha, “todos estamos chocados”, desabafa o filho Cassiano.
A investigação conjunta da Polícia Civil de Lajeado e de Arroio do Meio trabalha com as hipóteses latrocínio (roubo seguido de morte) ou homicídio (assassinato). A suspeita é de que o taxista foi morto pelos dois indivíduos que o teriam procurado no ponto, situado próximo ao STR, entre às 18h40min e 19h. Um casal jovem, com idade entre 18 e 20 anos.
Pittol foi morto com cerca de dez facadas, no bairro Santo Antônio, em Lajeado. Próximo ao corpo, localizado às 19h10min na rua Bernardino Pinto, a Brigada Militar (BM) encontrou a faca de aproximadamente 15 centímetros de lâmina utilizada no crime e um celular sujo de sangue. Nos bolsos da vítima ainda havia outro celular, mas a carteira havia sido levada. O Fiat Siena foi localizado às 23h, na Travessa Assex, no bairro Conservas, próximo ao Lar da Menina.
“Pelos horários dos fatos não haveria como ele ter realizado outra corrida. Mas há a possibilidade do envolvimento de uma terceira pessoa […] estamos analisando as imagens das câmeras de vigilância de estabelecimentos das imediações do ponto de táxi e gostaríamos de ter a colaboração da comunidade na disponibilização de arquivos ou realização de depoimentos. Também vamos fazer uma reconstituição dos últimos passos da vítima e aguardar o resultado da perícia”, revela o delegado de polícia de Lajeado, Sílvio Huppes.
Já o delegado de Arroio do Meio, João Alberto Selig, acredita que Pittol possa ter reagido e descarta a hipótese de execução, “como o casal só estava armado com uma faca o taxista acreditou que teria uma chance. O número de golpes confirma uma briga. Ele foi morto na direção […] não há nenhuma denúncia contra o taxista de envolvimento com ações ilícitas, o que descarta a hipótese de queima de arquivo”, explica.
Diferentemente do que foi anunciado pela imprensa, a família nega que o taxista tenha ligado para casa antes do ocorrido. “Não sabemos se ele atendeu uma chamada ou se ele foi procurado no ponto. Por telefone, geralmente só atendia pedidos de conhecidos e pessoalmente tomava muito cuidado para não carregar suspeitos. Ultimamente nem atuava mais à noite, geralmente encerrava o expediente às 20h, quando fechava o supermercado STR”, conta o filho.
Durante a mesma noite a esposa do taxista teria tentado contatá-lo por telefone e estranhou o fato dele não ter atendido, pois ele sempre atendia a família com prontidão. Conforme amigos, Pittol estava planejando adquirir um táxi novo em breve.
Crime evidencia vulnerabilidade da profissão
Esta não é a primeira vez que taxistas do município são alvo de criminosos. Durante o Carnaval um taxista de Bela Vista foi alvejado na mão com um disparo de arma de fogo no bairro Santo André em Lajeado, durante corrida de três indivíduos de Santa Clara do Sul até Arroio do Meio. O mesmo profissional também foi assaltado em outras duas situações e instalou uma cabine blindada para sua proteção.
Em novembro de 2011 um taxista do Centro foi vítima de tentativa de homicídio nas proximidades de uma pedreira de Bicudo. Ele entrou em luta corporal com dois bandidos e levou duas facadas no tórax, mas conseguiu fugir e avisar a polícia. Os bandidos foram presos instantes depois em Lajeado quando tentavam ingressar a BR-386, pela ERS-130. A vítima não atua mais no segmento.
Um profissional com mais de 20 anos de experiência explica que é preciso criar mecanismos para tentar discernir o perfil dos clientes, “negar a corrida na cara não dá. É preciso analisar bem o pedido dos passageiros, averiguar os destinos e as características dos serviços pedidos. Mesmo assim podemos ser surpreendidos por indivíduos que inicialmente não representam risco. Mas nenhuma categoria do comércio está livre da ação de criminosos”, observa.