O ressentimento, conceito do grande filósofo Nietzsche, também utilizado pela psicanalista Maria Rita Kehl, vai ser a base para algumas reflexões. Ressentir significa persistir no sofrimento, não esquecer, atribuindo a outro a responsabilidade pelo que faz sofrer.
Conforme a psicóloga Grasiela Bolgenhagen Piassini, sofrimentos fazem parte da vida. “Todos nós nos decepcionamos, somos magoados ou ofendidos, e, em geral, superamos esse sofrimento. Porém, quando os sentimentos de rancor, desejo de vingança, raiva e inveja predominam há um envenenamento psicológico, uma necessidade de culpar outro por um mal sofrido, ocupando o lugar de vítima”.
Ressentir significa ser passivo, colocar no outro a responsabilidade pelas tristezas da vida e acomodar-se, passivamente, frente às situações cotidianas. Ressentir é petrificar-se no sofrimento, cultivando sentimentos maléficos para si próprio.
“Chamamos de ressentidas pessoas amargas, que não vão pra frente, que ficam na queixa, persistem num discurso de desgraça. Dizem-se injustiçadas e usam esse sentimento para justificar sua infelicidade, chegando a sensibilizar os outros com tamanho sofrimento”. Para Grasiela, são pessoas que fazem questão de não esquecer os sofrimentos, pois assim ocupam um lugar – “coitado, passou por tudo isso”; “não teve sorte na vida”. Ressentidos sentem prazer com a “pena” dos outros, e, ocupando o lugar de injustiçados, colocam-se como vítimas dos fracassos da vida, não reconhecendo sua responsabilidade.
A psicóloga alerta que pessoas ressentidas costumam ver-se como puras, superiores, muito dignas, portanto, incapazes de reagir frente a ofensas, insultos ou agressões. São pessoas que guardam mágoas pela incapacidade de se defender das adversidades, portanto, reagir, se defender é uma possibilidade de não se ressentir.
“Cultivar ressentimentos nos torna pessoas amargas, de difícil convívio, sendo necessário elaborar para esquecer, retomando assim um lugar mais ativo em relação à nossa vida. Pensar a nossa responsabilidade frente ao que nos acontece, avaliar o que poderíamos ter feito diferente ou melhor, nos torna mais assertivos nas escolhas futuras. Elaborar nossas mágoas nos torna capazes de criar nossa existência de forma mais positiva”, explica.
Autoconhecimento, ou seja, conhecer as dificuldades e potencialidades, reconhecer os sentimentos também é importante para que se tenha atitudes mais positivas e, consequentemente, resultados melhores.
Sentimentos como raiva, inveja, revolta e desejo de vingança fazem parte da vida e não tem como eliminá-los. “O importante é que sejam passageiros, que não tomem conta ou sejam predominantes na nossa história, afinal, todos gostamos de conviver com pessoas bem-humoradas, positivas, que veem a vida pelo lado bom e que vivem intensamente os bons momentos. Então, que tipo de pessoa queremos ser?”.