O nosso Rio Grande do Sul mudou mesmo, hein?
Até o inverno, estação marcante do nosso Estado, não deu as caras ao longo de 2015. Tivemos um rápido período de chuvas, que durou cerca de 15 dias de intensa umidade, e nada mais que lembre os rigores que despertem as recordações de cinquentões como eu.
As manhãs geladas, de chão embranquecido pela geada por onde passávamos do bairro Bela Vista até as aulas da Dona Dorothéa Suhre, na Escola Luterana São Paulo, são cada vez mais raras. O vento minuano, açoitando orelhas e lábios que rachavam com as baixas temperaturas, deu lugar a uma brisa cálida que embala semanas a fio de sol e luminosidade.
Os dias primaveris deste inverno são a alegria dos que curtem praças e parques para caminhar, fazer exercícios ou levar o cachorro para passear. O viço das flores, emblemático da primavera, é onipresente, emoldurado pelo colorido vivo de ipês e jacarandás que mais parecem aquarelas vivas. A paisagem chama a atenção pela ausência de trovoadas, apesar das recentes enchentes que assolaram o Estado.
O fenômeno El Niño é apontado como o grande vilão de 2015, o lado das costumeiras acusações de mudanças no clima global, do aquecimento consequente da poluição desenfreada, do despejo de todo tipo de lixo e esgoto. A vida, parece, se mantém na terra por absoluta teimosia.
Seria maldade imaginar que o Governador Sartori tenha parcelado o inverno ou atrasado os pagamentos a São Pedro…
Tenho saudades das tardes geladas de domingo, da pipoca com melado, do bolo com cobertura de chocolate ou do pinhão fazendo assoviar a panela de pressão. Lembro os cobertores espalhados pela sala. As pantufas de lã, as meias grossas e as vistosa cuia passando de mão em mão, ornada pela verde vivo da erva mate. À exceção do chimarrão – companheiro inseparável do início de dia – todo mis permanece arquivado.
Maldade imaginar que o Governador Sartori, atordoado pela irresponsabilidade histórica dos que o precederam no Palácio Piratini, tenha pedido a São Pedro para parcelar o inverno. Ou que teria atrasado os pagamentos referentes ao fornecimento de frio.
Além da saudade, a ausência do inverno típico deveria nos levar a pensar seriamente sobre os motivos desta primavera fora de época. Talvez isso evitasse, num futuro não longínquo, arrependimentos e preocupações ainda maiores. Resultado da falta de zelo da humanidade com a natureza.