O brutal assassinato de Ronei Wilson Jurkfitz Faleiro Junior, de 17 anos, ocorrido no início de agosto em Charqueadas, reflete nuances da vida moderna. Em destaque está a intolerância. Investigações policiais demonstraram que o jovem foi trucidado a pontapés, chutes e golpes de cacos de vidro, pelo simples fato de residir em outra cidade. No caso, na vizinha São Jerônimo. Os marginais, autores da barbárie, já tinha patrocinado outras covardes agressões.
O massacre do jovem demonstrou também a frieza desta gangue. Poucas horas depois do crime as redes sociais foram inundadas de gravações. Em diversos trechos de áudio – veiculados pelo aplicativo WhatsApp – homicidas detalharam os golpes desferidos em Ronei com riqueza sádica de detalhes. Também intercalavam risadas e deboches das lesões da vítima. O uso das redes sociais para espalhar conteúdos agressivos tem sido fonte de polêmica infindável.
A falta de comprometimento dos pais compromete o esforço dos professores. Empenhados em ministrar conteúdos de cultura, eles sofrem com a ausência de limites dos alunos que levam à permissividade trazida de casa. Poucos pais questionam sobre amigos, rotina, colegas e lugares frequentados pelos filhos. Falta de tempo e estresse são escudos que escamoteiam o cumprimento das funções de educador. Isso fomenta o surgimento de marginais juvenis que molestam, abusam do buliyng, agridem e matam.
A confiança entre pais e filhos pode significar a diferença entre vida e morte
Esta semana ouvi o pungente depoimento da mãe do jovem assassinado em Charqueadas. Ela confessou um sentimento de culpa, apesar dos contatos permanentes com o filho através do celular. Depois de insistir várias vezes, o sentimento materno previu que algo de grave acontecera. “Fiz o possível, conhecia os amigos do meu filho, aonde ele ia, e nunca aconteceu nada. Até hoje… com esta barbaridade que tirou da minha vida a coisa mais preciosa que eu possuía…”, desabafou.
Fiquei tocado pela manifestação. Tenho dois filhos jovens – de 19 e 21 anos – e sofro a cada saída noturna. Tento equilibrar sentimentos distintos: dar liberdade necessária ao desenvolvimento deles mas, simultaneamente, zelar pela integridade do maior patrimônio que um pai/mãe possui. A violência está em todos os lugares, a toda hora, em qualquer circunstância. Passeios inocentes, uma ida ao cinema ou ao supermercado para buscar um ingrediente necessário ao jantar ou a parada diante do sinal vermelho nas ruas é suficiente para ocasionar uma tragédia.
A dor é para sempre. A perda, irreversível. A revolta – sufocada pelo luto do primeiro momento – e o sentimento de impotência são devastadores. Há muitos culpados. Mas é preciso fazer o que está ao nosso alcance. Isso começa dentro de casa, através do diálogo com os filhos. A partir daí, flui a confiança sincera, despojada da sensação de controle sobre a vida deles. E esta pode ser a diferença entre viver e morrer.