Estou pensando seriamente em plantar alguns pés de café no pátio e aproveitar a visita diária de um casal de jacus – aves grandes e negras – que se alimentam de folhas e sementes. Quem de vocês nunca ouviu falar do “Jacu Bird Coffee”? Ele é produzido da seguinte maneira, o jacu ingere a semente e como tem um processo digestivo simples e rápido, em minutos defeca os grãos, ali mesmo, próximo ao cafeeiro. Em seguida um coletor recolhe este cocô, que é higienizado e levado para a torra. Nunca provei, não apenas em função do método exótico, mas especialmente, devido aos R$ 240 cobrados por quilo. É muito caro.
A explicação para o preço é plausível. As aves escolhem sempre os mais belos e tenros frutos. Provocavam uma queda de 10% na colheita de Henrique Slope, proprietário da Fazenda Camocim, em Domingos Martins, no Espírito Santo. Aí ele lembrou que um antigo povoado de Sumatra, na Indonésia, produz o café mais caro do mundo, o “Kopi Luwak”, que provém da combinação dos grãos com sucos gástricos de uma espécie de gatos que não lembro o nome, mas típicos daquela região. Se com felinos é possível, porque não o cocô das aves não seria igual?
Assim surgiu o Jacu-coffe que já chegou às mais finas cafeterias do mundo. Uma xícara deste café especial custa em torno de R$14. Ou mais! As aves que eram uma ameaça aos cafeicultores, passaram a grandes colaboradoras dos cafeicultores. Provadores de café de fama internacional, dizem que o sabor delicioso persiste no paladar. Se alguém me pagar, quem sabe eu não o provasse?
De qualquer maneira, só queria deixar uma mensagem que servisse a todos. Muitas vezes quando as coisas parecem presas no tortuoso corredor intestinal dos problemas, justamente a partir de lá, pode ser o fim de um desarranjo e início de uma nova alternativa. Criativa e rentável. Transformar cocô em café fino, não é apenas uma metáfora escatológica, mas a constatação de que a superação não depende apenas de milagres e sim, de criatividade. Um bom café, nem precisa partir das entranhas de uma ave, mas se, literalmente, foi a única saída, porque não aproveitar a sensibilidade do Jacu, que por saber escolher os melhores grãos, transforma seu cocô em grife. Que feito!

