Estou vivendo um período muito semelhante a férias. Em casa, longe da rotina diária, perto demais dos afazeres domésticos. Tanta coisa para resolver. E a limpeza? Os entulhos que guardamos igual a pensamento ruim na cabeça? Aí a esposa que decidiu economia no verão para uma viagem melhor, posteriormente abriu a porta da garagem e decidiu varrer tudo. Tudo!
Papéis com notícias velhas. Releases de antigas missões jornalísticas. Um mundo entre o pó, o mofo e uma coleção bem viva de aranhas e cupins. Dizimados todos, ela me observou e ofereceu uma troca. Meus velhos equipamentos de som por um novo a minha escolha. Não caí na conversa. Mas mesmo assim sofri baixas. Ela ainda me acusou de ser acumulador. Mas não coleciono nada. Problemas às vezes. Mas os resolvo sempre.
A questão maior é que tudo o que se compartilha no universo feminino pode ser dispensado após o uso. Nós, inclusive, em caso de repetidas falhas. Colecionadores de vinil, como eu, vivemos essa angústia. Pra que tanto disco se tudo poderia ir a uma discoteca virtual? Elas não ligam a história das belas capas de LP. Algumas verdadeiras obras de arte.
De qualquer maneira meu exército de CDs, outra coisa em desuso sobreviveu. Ela os limpou, reconheço. Um a um. O que me leva a crer que até o final do verão, teremos outras mudanças. O mundo moderno, as soluções e as grifes alucinam a grande maioria delas. Não estou só nisso. Meu amigo Gilberto Jasper tem um belo e moderno equipamento de som e áudio. Quem adquiriu tudo isso? A esposa. Lógico! Ela comprou até um toca discos novo. O velho foi para a minha garagem. E sobreviveu.
É forçoso reconhecer que a análise fria dá razão a elas. E não vamos brigar por causa de um tape-deck histórico. Sons digitais facilitam a vida. Não tem chiados. Mas o que fica para trás, a recordação é o que pretendo manter viva. Está lá, refugada até pelo lixeiro que tem tudo o que precisa em seu smartphone. Eu acho isso democrático. E se me chamam de museu lembro Cazuza que falava da sociedade e seus museus de grandes novidades.
De qualquer maneira, velharia em casa a partir destas férias, só eu. E nem vou provocar abrindo o roupeiro dela. Tem vestes, bolsas, sapatos que fariam feliz qualquer outra mulher. Rapazes, tenho certeza que nos closets, roupeiros e bolsas de 98,2% das mulheres encontraremos estoques para vários brechós.
Sim! Elas amam brechós! Que em outras palavras vendem coisas de outras que enjoam com mais intensidade. E todas compram! Grandes grifes com preços de ocasião é tudo! Mas tente comprar um 5.1 usado. Pode ser um TEAC japonês. Elas irão torcer seus lindos narizes. E nós, dependentes, diremos, com ou sem convicção. “Você está certa, querida”. Tudo em nome da paz no lar. Agora, estou a caminho da terceira faxina do dia. Abraço a todos.

