Horripilantes textos de horror, as mais divertidas comédias e, sem dúvida, os mais inacreditáveis filmes policiais e de suspense passaram a ser produzidos a partir de Brasília, nossa Hollywood, nossa utopia às avessas. Os enredos, às vezes, simplistas, em outros envolvidos em intrincadas redes de personagens, acabam levando gente de conhecimento médio, razoavelmente informada, a estranhar tudo o que se passa. Somos um país fracionado por questões ideológicas? Não acredito. O que nos separa são interesses pessoais escusos e intransferíveis e que muito pouco tem a ver com ideologias.
Quando eu ainda era menino, lembro da direita a derrubar um presidente dito de esquerda e, teoricamente livrar o país do comunismo “papa criancinhas”. O que aconteceu após tantos anos, tanta passeata e vítimas? Recebemos de volta um país esquizofrênico. Após o período inicial, assegurando uma vitória contra o dragão inflacionário, assumiu aquela esquerda de carteirinha, bandeira e pins coloridos. Ruidosa, caprichando no marketing da pureza ética.
Roteiros populares, slogans bacanas e marketing eficientes funcionaram bem na largada. Mas ao abraçarem velhas raposas conservadoras, aquelas que roubavam, mas faziam, acabaram contaminando suas bases. E nunca se viu tanto sindicalista, político revolucionário aproveitando o discurso da governabilidade, para negociar a alma. A velha e surrada farda da guerrilha urbana, apenas cobria o perfume burguês e o sonho do poder a qualquer custo liberava. O proletariado de fraque e cartola, transformava-se em insólita tomada neste filme que acaba como um dramalhão à moda antiga.
O que acontecerá conosco, eleitores que simpatizamos com ideologias direitistas, esquerdistas ou centristas. Nós, eleitores ateus, agnósticos ou crentes, de onde tiraremos a fé para prosseguir? Qual mandatário irá além das ideologias, não em proveito próprio, sem negociatas com o demônios que exorcizavam, mas estabelecendo propostas voltadas ao bem comum. Agora estão todos embrulhados no mesmo saco – políticos se passando por palhaços – exigiram um novo e eficiente grupo de roteiristas. Mais do que projetos e leis, precisamos de ações que nos livrem destes canastrões enfeitados, nascidos nos extremos do radicalismo, com suas bocas e mãos de ódio, precisando repetir mil vezes uma cena que não convence mais ninguém.
Todos precisamos, a partir de agora, compreender que tantas encenações, tantos discursos e artimanhas, não ofenderam apenas ao Tiririca, que tirou o bigode para não ser confundido com uma marionete da política do vale-tudo. Afinal quem é o palhaço? Queremos políticos de verdade, que saibam fazer a leitura correta de suas filosofias de vida.
Por enquanto, assistimos o mais nefasto e devastador uso da corrupção como meio de manter status entre a plebe. Quem sabe, a dor que nos move, o medo de um retrocesso, da violência nas ruas, ou da falta de comida em nossas mesas nos ensine, definitivamente, que não adianta ter lado, tomar partido, sem ética. Quem sabe agora que o Cinema Brasília incendiou, os filmes desta Hollywood tenham um final feliz para nós que custeamos a produção?

