Sofri um apagão na manhã da terça-feira passada. De repente todas as minhas angústias e inseguranças se transformavam em um nada. Tornaram-se pequenas demais diante da notícia impactante que ouvira no rádio. Rodrigo, um jovem de 17 brutalmente assassinado, mesmo sem ter reagido, apenas olhado para seu agressor. Sei que irão me dizer que tal fato já virou rotina, nem impacta tanto assim.
Mas quando chega bem próximo a nós, a coisa se torna verdadeiramente assustadora. Eu conhecia Carlos Eugênio, o pai do jovem vitimado. Fomos colegas por muitos anos. Era um sujeito tranquilo, do tipo paizão, família. Vejam que tragédia! “A gente não pode proibir as crianças de viver, de estar na rua, de aproveitar a vida”, disse esse pai em entrevista, no dia seguinte.
Ele está certíssimo, os guetos estão em todos os lugares, cercam nossas casas, nossos bairros. Desses breus brotam, ali mesmo na vizinhança, jovens que aspiram o pior, estimulados por drogas, companhias do mal e principalmente, pelo abandono de famílias desestruturadas. Ninguém mais segura os temperamentos difíceis da casa que se criam soltos, ávidos de tudo que lhes sacie a vontade.
O delegado que acompanha o caso, disse que o assassino teria atirado porque Rodrigo fixara o olhar nele. Agora não se pode olhar mais para quem nos agride. A ordem é ficar de cabeça baixa e entregar tudo o que se tem. E assim, nesta posição, começar a rezar para que os maus humores dos delinquentes não cheguem ao extremo de um disparo fatal.
Neste domingo, os amigos do Rodrigo realizarão um evento contra a violência no Parque Mascarenhas de Morais, no bairro Humaitá, em Porto Alegre. É um lugar enorme, criado justamente para que todos possam ter ar puro em um ambiente tranquilo. Lá se reúnem para tomar chimarrão, paquerar, confraternizar, enfim. Infelizmente outros circulam por lá para aproveitar-se do descuido alheio, em roubos, tantas vezes seguidos de gratuita violência.
Em meio a tudo isso, o noticiário nos brinda com informações sobre as negociatas de colarinho branco, onde corruptos sobrevivem com estratégias ardilosas e sem moral. Desviam dinheiro e nos exigem que fiquemos de cabeça baixa, aceitando como normal a idolatria de gente sem caráter. O que sobra para aqueles que deixam os filhos soltos, porque precisam ir em busca do sustento da família? Quem adota essas crianças entregues à própria sorte que, pelo que vemos, não tem sido das melhores.

