Três dias depois de completar 56 anos, o verdadeiro gelo que se abateu sobre o Rio Grande do Sul resolveu castigar de vez a gauderiada. Estamos acostumados à umidade, à oscilação de temperatura e toda esta loucura do clima. Mas cá entre nós: quando os meteorologistas avisaram que vinha frio de rachar – e por um longo período – muita gente deu de ombros e murmurou:
– Ah… isso é coisa do Cléo Kuhn e suas previsões furadas que raramente se comprovam!
Que nada! O termômetro desceu de vez. Costumo dizer que no dia do meu aniversário chove ou está frio. Ou chove e faz muito frio, tudo ao mesmo tempo. Fazer o que? São coisas do calendário. O ruim deste período é o fato de que todos andam encolhidos, encarangados. No final do dia, as costas e todas as juntas do corpo reclamam, as dores são lancinantes, é hora de blasfemar contra nosso querido Estado.
Morar no Estado mais meridional do Brasil tem destas coisas. E a gente se gaba que aqui é o melhor lugar do mundo. Será? Eu, pra ser franco, gostaria de passar o final de semana à beira mar, tomando uma gelada e sapecando um camarão.
Perto dos 60 anos é hora de curtir os amigos e a família
Passei as noites desta semana fechando portas. É uma mania que muitas pessoas têm, um hábito bastante arraigado. Tinha a nítida impressão de que o frio entrava por uma fresta ou janela. Aí, saía à procura do “foco de gelo” que invadia toda a casa, mas era apenas… o frio mesmo, dando o seu ar da (des) graça.
Apesar do inconformismo, é assim que será daqui para diante. Muita roupa pesada, cobertores e edredons, café, chimarrão e vinho, mocotó, feijoada e sopão, e para os mais disciplinados, caminhadas ao sol – quando aparecer – ou outro tipo de exercício. A gripe está em todo o lugar. Nunca vi tanta gente tossindo ao mesmo tempo. Em qualquer ambiente a cara de sofrimento das pessoas é evidente.
O frio maltrata o corpo, mostrando que deveríamos ter uma vida mais saudável, numa preparação para a velhice. Isso deveria ser regra, mas apenas quando os efeitos do tempo se mostram mais visíveis lembramos da necessidade desta rotina de cuidados.
Perto dos 60 anos, rechaço com veemência esta história de “melhor idade”. Isso é um slogan criado por farmácias, drogarias e laboratórios que faturam horrores com as baixas temperaturas que assolam os gaúchos. Mas é preciso curtir o que a experiência nos dá de melhor: os amigos e o carinho da família.