A natureza humana é repleta de facetas surpreendentes. Querem um exemplo atual? Ao mesmo tempo que nunca se viu tanta gente com seu mascote a tiracolo, jamais se flagrou tantas atrocidades cometidas contra os indefesos animais. A proliferação de entidades voltadas à proteção destes seres indefesos demonstra a insensibilidade que mobiliza milhões de pessoas em todo o mundo, além do dispêndio de quantidades colossais de dinheiro.
Confesso que compartilho do amor pelos animais. Fiuk, o maltês branco e serelepe, inquieto e estressado que há anos convive em minha casa, é alvo de carinho e atenções. E não apenas em relação à saúde, através de vacinas, banhos, tosa, agasalho e outros quetais, mas de amor incondicional. Mantê-lo não é custo pouco. Apesar da proliferação de estabelecimentos do tipo “pet”, os preços são elevados, evidente sintonia da relação demanda e procura.
Durante a caminhada que faço com Fiuk no início da noite, vislumbro dezenas de donos empenhados com o bem-estar dos filhotes. Converso com eles para trocar impressões sobre o tipo de ração, os hábitos, os problemas de saúde mais comuns, experiências e peraltices. Existe uma espécie de confraria dos proprietários. A melhor maneira de se aproximar de um estranho é levar uma criança de colo ou segurar uma coleira pela mão. A empatia parece instantânea, apesar das exceções que comprovam a regra.
Basta olhar para aquelas carinhas de ternura para constatar: eles só querem um segundo de atenção
Evito a aproximação de meu mascote com pessoas desconhecidas. Afinal, ninguém é obrigado a gostar de animais. Além disso, por serem irracionais, eles podem atacar sem motivo aparente, criando constrangimento, lesões e outros problemas.
Além de alvo de afetos, os animais de estimação servem também para preencher a rotina de milhares de solitários que optam pela reclusão de seus lares. No máximo, trocam algumas palavras com outros proprietários em praças, parques e lugares onde é inviável fugir ao contato pessoal.
Estas pessoas transformam os filhotes em algo mais que um bicho de quatro patas. Torna-se repositório de cuidados, afeto, amor, carinho e todos os sentimentos citados anteriormente. Muitos condenam estes fanáticos admiradores de animais nestas proporções. Mas a devoção transcende o racional. Daí a paixão desmedida, o zelo sagrado, a benquerença sem precedentes.
No mundo dominado pela intolerância, com atentados em todos os quadrantes do mundo, tolerar a gamação pelos mascotes constitui contraponto ao ódio. Basta olhar para aquelas carinhas de ternura para constatar: eles só querem um segundo de atenção. Afinal, de intransigência o universo está cheio.