Esta semana mais uma escola pública foi depredada em Porto Alegre. O que os vândalos não puderam levar, destruíram. A iniciativa da direção, em abrir o estabelecimento para discutir problemas de segurança pública e o consumo de drogas, enfureceu os chefes do tráfico como forma de retaliação.
Sou da velha guarda, do tempo em que a escola era uma espécie de santuário, um lugar intocável, ponto de referência da comunidade, espaço de confraternização e mobilização. O descaso das autoridades em valorização à educação (e seus profissionais/funcionários), a crônica falta de segurança e a ausência de comprometimento de pais mudaram esta realidade.
O vandalismo protagonizado pelos alunos é um fenômeno chocante. O lugar para aprender os princípios de cidadania é uma terra de ninguém. Raros se comprometem na manutenção dos equipamentos indispensável ao funcionamento da escola.
Nascido em 1960, estudei na Escola Luterana São Paulo. Com nitidez recordo da rotina cumprida nas manhãs de sábado. Tínhamos aulas de caligrafia e desenho até o recreio. Depois, munidos de baldes e panos, era hora da limpeza integral da sala de aula.
Egoísmo gera isolamento que leva à falta de comprometimento social
Cada canto era cuidadosamente varrido. Depois, com o uso de panos, era hora de lavar o espaço. A turma ficava do lado de fora enquanto o chão secava. Em seguida, era hora de aplicar cera, produto que deixava tudo brilhando. Findo o serviço, era visível o orgulho da turma ao vislumbrar o viço do piso.
Os tempos mudaram, os hábitos se alteraram, o amor à escola mudou e seus frequentadores – tanto professores, funcionários e os alunos – encaram o aprendizado com outro ânimo. Existe muita raiva, talvez fruto dos desmandos daqueles que deveriam zelar pelo bem-estar da população, munidos de mandatos populares.
Chama a atenção o descompromisso de tantos pais que sequer conhecem os professores de seus filhos, impingido aos mestres– sempre! – culpa pelo comportamento desordeiro de seus herdeiros. Diante da irresponsabilidade familiar, os jovens se acham desobrigados de adotar condutas compatíveis à condição de alunos. Comunidades que valorizam suas escolas são desenvolvidas e organizadas para enfrentar inimigos sempre à espreita para fisgar adolescentes ávidos de aventuras desaconselháveis.
A escalada de violência, que dilacera o tecido social, esfacela princípios basilares de convivência e separa famílias, está longe do fim. E se agrava quando todos pensam apenas em si. Egoísmo gera isolamento que leva à falta de comprometimento social.