O vestido da moça levantou até onde não deveria, provocado pelo forte vento da manhã de quarta-feira passada. E a cena, ao contrário de qualquer conotação sexy, foi hilária. Era uma cebola de panos multicoloridos até se chegar a um abrigo velho, cor de abóbora que provocou risos da turma que aguardava o sinal verde, no frio centro de Porto Alegre. Logo em seguida, folhas de jornais também voavam aleatoriamente, também arrancadas de uma banca de revistas. Rir quebra, literalmente, o gelo deste inverno rigoroso.
Manter a elegância no frio, pode até ser possível. Mas custa muito dinheiro, as pessoas precisam mesclar roupas práticas com o bem vestir e poupar o que tem de mais bacana para as horas de folga. Sim, o período do encontro com amigos, do cinema e do barzinho. E o amor, o namoro no frio? Todos vestidos em camadas, feito a guria da abertura deste texto. É desanimador não é?
Mas esse colunista tem algumas dicas que sempre funcionam. É claro, não salvam relações em crise – mas podem até ajudar a quebrar o frio do cotidiano – anotem aí. Reduza um pouco as bebidas de forte teor alcóolico, que criam uma descontração inicial, mas provocam sono quando o quarto está aquecido pelo ar condicionado. Chegaram em casa e precisam fazer alguma coisa para comer? Para variar, cozinhem algo mais apimentado. Os gaúchos não curtem pimenta, já repararam? E os nordestinos com seus eternos verões se esbaldam em pratos picantes.
Pimenta é quase um viagra natural. Provoca uma melhor irrigação do sangue, o que causa uma sensação de bem-estar e chega lá, naquela região que se escondeu do frio abaixo de ceroulas e outros panos quentes. Até amendoim com casca pode ajudar, segundo informam colegas médicos, tem vitaminas que ajudam na circulação sanguínea. Sem precisar sacudir a casca que caiu no colo do namorado, bem entendido (mas está liberada a prática).
Antes de ir para o quarto para ver no que dá, prepare um bom chocolate quente – nem tanto para não queimar dedos e línguas – mas na medida para liberar energia, provocar uma sensação gostosa de alegria, graças a três componentes – a cafeína, a teobromina e a feniletilamina. A primeira estimula o corpo, a segunda especificamente o coração e o sistema nervoso, e a última, troca aquele ar de “tu tá mesmo a fim?” por um sorriso bem humorado. E sem tristeza, o resto é com vocês amantes latinos. Aliás, tem gente que inclui o uso tópico do chocolate nas brincadeiras amorosas. Aprovo sem restrições.
E por favor, a dica final, fundamental. Permaneçam bem vestidos, cobertores para dar aquele conforto quente. Provocação com roupas também é válida. Fantasiem aqueles tempos adolescentes dos primeiros namoros, quando tudo era a tato, no escuro do cinema, ou no sofá da casa assistindo uma sessão da tarde da tevê, enquanto o pai vigilante roncava.
Até chegar a hora que tudo, mas tudo mesmo aqueceu, se decide o que é possível ser descartado do corpo gelado. Afinal, somos gaúchos e precisamos aprender a enfrentar essa estação quase estraga prazeres. Caso contrário será um festival de sopão, feijoadas, massas com molhos fortes que não tem nada de sensual. Muita boca engordurada, muita barriga cheia e pouca satisfação em outros campos.
Entendam que não é tão difícil namorar no inverno. Pratiquem! Vocês aí do Vale do Taquari, nada de galinhada, maionese ou salada com vinagre. Pão com linguiça? Só se for com linguiça picante. O negócio é ser criativo, ter paciência. Se der tudo certo, quando o vento levantar o vestido de uma desavisada na rua, ninguém se abalará para espiar. Terão todos comido muito bem.