Fui um guri introvertido. Na adolescência, fugia das gurias. Confesso: tinha vergonha de “tirar” uma delas para dançar e ser rejeitado. Coisa de piá. Em inúmeras reuniões dançantes ficava observando, plantado à beira da pista. Algumas meninas até me dirigiam “olhares de promessa”, mas o medo era grande.
Os bailes de debutantes do Clube Esportivo, no entanto, foram fundamentais para aumentar minha coragem. No debut participava ativamente do “bolo vivo”, casais que dançavam em torno da debutante e o seu pai ou namorado. Fui acompanhante várias vezes. Tinha terno, gravata e usava sapatos lustrados no capricho.
Mais tarde, a opção pelo Jornalismo me obrigou a sair definitivamente do casulo para conversar com pessoas que não conhecia, frequentar ambientes estranhos, convencer fontes a contar detalhes de acontecimentos para transformar numa notícia compreensível. Viajei por todo o Estado, por décadas, hábito do qual tenho muita saudade. Visitei lugares incríveis que poucas conhecem.
Depois de tantos anos é impossível abandonar o cacoete de repórter. Minha mulher e filhos costumam dizer que, se eu ficasse muito tempo num potreiro, com bois e vacas, em minutos conversaria animadamente com os animais. Ou com a cerca ou com as árvores.
Sou privilegiado pela diversidade de pessoas que conheci nesta vida
Este hábito me fez um eterno curioso pelas pessoas, suas histórias, agruras, conquistas, alegrias e dificuldades. Alguns relatos me deixam boquiaberto. Ouço muita gente feliz, mesmo obrigada a conviver com doenças graves na família, dificuldades financeiras, longas jornadas de trabalho ou sendo dependentes do caótico sistema de transporte coletivo.
Também ouço episódios que amenizam o que chamo de “pequenos pepinos”. São minhas dificuldades, irrisórias, diante dos obstáculos que milhões de brasileiros superam todos os dias para sobreviver. Nos hospitais, supermercado, lotação, fila do caixa do restaurante, no ambiente de trabalho. Em todos os lugares há pessoas que enfrentam situações graves que atingem parentes. Constituem lições de vida onde o amor, a garra e a dedicação renderiam livros e séries de televisão.
Esta mania de gostar das pessoas passa longe de um mero interesse para fomentar futuras fofocas. É uma espécie de “abastecimento afetivo”, fundamental em minha vida, pontilhada de amigos generosos, familiares amorosos e colegas afetivos. Sou privilegiado pela diversidade de seres humanos ricos que conheci ao longo de minha trajetória. Retribuir, através da disposição permanente em ajudar, é o mínimo que posso (e devo) fazer.