“Estão na pauta alguns assuntos difíceis com os quais vocês preferiam não lidar, mas estão aí e requerem atenção. Enfrentando-os, você constatará que não era tão difícil assim resolvê-los e colocar um ponto final”. Os presságios para os nativos de Gêmeos, como eu, foram publicados no jornal de anteontem, quarta-feira, no momento em que redijo esta crônica. A publicação desta coluna responderá se houve acerto na previsão.
Todos juram que não acreditam na coluna de horóscopo. Também é verdade que a esmagadora maioria deste contingente dá pelo menos uma espiadinha nesta sessão, principalmente no início do dia. Já contei no meu blog http://gilbertojasper.blogspot.com.br/ que já fui redator de horóscopo.
Os presságios publicados pelo jornal onde trabalhei eram distribuídos por uma editora de São Paulo. Tudo corria bem, até o momento da renovação do contrato, com uma majoração de custo acima da inflação galopante da época. Criou-se um impasse. A coluna tinha grande prestígio. Os leitores não perdoariam a supressão da previsão feita pelos astros.
Durante meses redigi o horóscopo, mas por favor, não me perguntem como…
Vendo o burburinho que se instalara na redação, não hesitei:
– Deixa comigo… eu redijo o horóscopo!
Todos se viraram para mim, um piá metido a jornalista. Caiu a ficha da barbaridade dita. Mas era tarde.
– Ok, a partir de hoje, é tudo contigo – disparou o editor-chefe.
Durante alguns meses entregava no horário prometido todas as previsões. Não me perguntem como consegui. Como sou jornalista “na ativa”, certamente seria alvo do conselho de ética de alguma entidade ligada à comunicação, comprometendo meu currículo.
O horóscopo povoa o imaginário das pessoas. Cartomantes, simpatias, leitura de tarô e tantas outras manifestações esotéricas que “preveem o futuro” têm sucesso garantido. O mundo, essencialmente materialista, não perdoa quem prioriza os sentimentos. São taxados de românticos, sonhadores, visionários.
A cultura do consumismo, do acúmulo, da ostentação e do descartável ganharam o mundo. Na vida, nas redes sociais. Nem assim as combinações astrais saem de moda. O futuro é um desenho infinito, reescrito a cada segundo, repleto de surpresas, decepções, conquistas e muita curiosidade.
Hoje, sexta-feira, resta descobrir se consegui desatar todos os nós que empacam a minha vida. “Reina grande expectativa”, como diria aquele antigo narrador de rádio de antanho.