“As correntes do casamento são tão pesadas que muitas vezes são necessárias duas pessoas para carregá-las, às vezes três”, Alexandre Dumas.
A frase genial do escritor francês (1807-1870) foi uma das motivações da pesquisadora canadense, Elizabeth Abbott para uma espiada na história das mulheres que aceitaram esse jogo e que resultaram no livro “Amantes: Uma História da Outra” (Record). Avancei poucas páginas, mas o formato de contos torna a leitura mais leve e fluída. Perceberemos que a associação entre casamento e amantes é multicultural e mais antiga do que pensamos.
De certa forma, analisa a autora, nos tempos antigos, a relação extraconjugal aliviava a frieza dos casamentos arranjados e permitia a continuidade da união contratada por interesses familiares ou econômicos. O livro cita, por exemplo, as 300 amantes do rei Salomão e suas 700 esposas oficiais, tem detalhes sobre relacionamentos secretos de líderes religiosos, como a do papa João XIII, que morreu assassinado por um marido inconformado.
O livro não fica só no passado. A autora vai fundo no perfil das novas uniões e seus casos extraconjugais. Ela explica que a partir dos anos 60, muitos casais passaram a viver juntos, dispensando cerimônias religiosas e registros em cartório. Estavam livres para um amor verdadeiro, teoricamente, mas não totalmente da possibilidade de um affair. “O caráter proibido das relações extraconjugais, assim como a cumplicidade desenvolvida entre os amantes, continua sendo um forte estímulo para sua perpetuação”, afirma a autora.
As pesadas correntes citadas por Alexandre Dumas ainda unem e desunem casais. Ela cita amantes que se tornaram casos clássicos na mídia sensacionalista moderno. Camila Parker Bowles e o príncipe Charles, com suas noitadas obscuras. Vai mais atrás para as brigas públicas de Maria Callas e Aristóteles Onassis e analisa também o envolvimento de Eva Braun com Adolf Hitler.
Em outros casos, os poderosos dividiam a mesma amante, como aconteceu com a linda Judith Campbell. Depois de namorar Frank Sinatra, caiu nos braços do mafioso Sam Giancana e do presidente John Kennedy. Todos sabiam que não tinham exclusividade. Kennedy, logo em seguida, trocava a amante por um caso com Marilyn Monroe.
Diante de tantas histórias para indignar bem casados, o texto da pesquisadora não se contamina por moralismo exacerbado. Também não percebi se a autora se posiciona contra ou a favor das personagens, ou desse tipo de relação. Por enquanto me agradou o texto rico em detalhes – afinal são 600 páginas – e revela histórias às vezes tristes, outras curiosas e divertidas, como um painel crítico do concubinato, até os tempos de hoje onde, aparentemente, se valoriza mais um perfil de relação estável e monogâmica. #ficaadica.