Imaginem o mar azul, claro transparente, ou a brisa do campo, naquele sítio encravado em uma montanha onde o som dos pássaros te alerta para o tempo que passa lento, sem afobação, retardando o envelhecimento. Mas, de repente, sem mais nem menos, tudo vira uma bagunça com alguém, alguma voz de comando, ou a sua própria, a exigir algo que era para ontem e ainda não está pronto.
“A vida está corrida demais!” Esta exclamação é a que mais ouço em todos os espaços de trabalho. A dona de casa, o empresário, o servidor público e mesmo o desempregado, vivem a ansiedade moderna da pressa. As redes sociais alimentam urgências inéditas. Caímos na toca do coelho de Alice no País das Maravilhas. Enlouquecemos. Dividir espaço com malucos beleza não me importa, doidos de atar, assusta.
Minha prima, Lisia Teixeira, competente psicóloga, compartilhou um artigo do site www.psicologiasdobrasil.com.br, sobre uma preocupante mazela da sociedade atual, a Síndrome de Burnout – esgotamento – provocada pelo exagerado estresse diário. E quais são os sintomas? Agressividade, isolamento, mudanças de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, falha da memória, ansiedade, tristeza, pessimismo, baixa autoestima, ausências no trabalho. Ufa! Respirei aliviado, definitivamente não estou só.
A coisa pode ser mais grave, aproximando-nos da paranoia o que, certamente, nos leva a sintomas ruins no corpo. Dores de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma e distúrbios gastrointestinais, respiratórios e cardiovasculares. Em algumas mulheres também pode acontecer alterações no ciclo menstrual. E aí? Como podemos sair a tempo dessa toca de coelho maluco?
O site indicia terapia e medicamentos, se for o caso. Mas acima de tudo, pondera que uma mudança no estilo de vida é a base de tudo. E fico imaginando centenas de leitores dessa coluna, impulsionados por minhas convincentes palavras – embasadas em estudos científicos – de uma hora para outra buscando novos caminhos para suas agitadas vidas. Todos a la playa! Todos às casas de campo, às montanhas. Congestionariam os litorais, as rotas serranas.
O estresse apenas mudaria de endereço. É difícil mudar hábitos, largar e abandonar rotinas, por mais corridas que sejam. Aquilo que nos vendem como o certo para uma vida de realizações e segura. Na praia, algum novo tipo de insatisfação nos atacaria feito um tubarão voraz, a devorar de culpa pela alegria singela de molhar o bumbum em tépidas águas salgadas.
Quem sabe, a revolução se realize basicamente ao revermos as atitudes em relação aos desafios, as falsas necessidades que aceitamos sem reflexão. Criar brechas, espaços lúdicos entre as horas que voam é nossa obrigação. Afinal, qualidade de vida é o melhor antídoto contra o esgotamento. E lhes pergunto: será o cotidiano que nos exige demais, ou seremos nós os verdadeiros autores de tantas demandas doidamente afobadas?