Recebo dezenas de e-mails com dicas certeiras (será) para salvar, ou evitar, casamentos em crise. Não sou especialista, mas um jornalista que especula a existência humana, sempre no sentido de torná-la mais divertida. Li teses de mestrado, doutores em psiquiatria e psicologia, mães de santo, pastores e padres. Alguns se colocando como verdadeiras ambulâncias antichatice. Alguns casados, outros teóricos apenas. A grande maioria a valorizar o sentimento amoroso e anda preocupada com o casa-descasa entremeado de traições ou um total desinteresse por uma vida a dois.
As dicas chegam ao limite do pueril quando lidas mais atentamente: “romantismo que estimule a criatividade do casal” ou “cultivar momentos a dois. Passeios, cinema, sair para dançar. Criar oportunidades para o lazer, não só rotinas e obrigações cotidianas”. Qual a novidade, senhores? Agora mais essa: “exercite a mente com pensamentos estimulantes ou sensuais durante momentos diversos do dia: pensar em sexo é um grande afrodisíaco”.
Não acredito! É verdade? Imaginem alguém com ideias sexy em horário de trabalho. Um cirurgião, um padeiro ao amassar o pão, uma cozinheira ao fatiar o salame para um sanduíche. É meio esquisito imaginar esses profissionais a revirar os olhinhos nas atividades cotidianas.
Alguns conselheiros afirmam ainda que as mulheres adoram elogios. Isso é inédito! Como não percebi antes? Em outras palavras, não existem segredos ou mistérios. Só não podemos nos transformar em gente sem graça. Gente do tipo cercada de parentes chatos, amigos mais inconvenientes ainda e uma administração errática do cotidiano.
Passear faz bem? Mas como evitar de levar a sogra – ou irmãos e primos – quando estes vivem com o casal e não dão folga? Como conseguir pensamentos amorosos durante o dia, se à noite já é trabalhoso convencer uma das partes a um namoro rápido e relaxante?
Imaginem ela à tarde, administrando o lar, abraçada em balde e esfregão, ou ele no escritório, com um chefe que fiscaliza cada tomada de ar mais longa, cada olhar perdido em pensamentos? Ou em uma situação mais moderna, onde ele esfrega o piso da casa e ela administra os negócios da família. O cansaço é idêntico, a rotina segue o mesmo caminho.
A chatice coletiva transforma o prazer em tédio. Colegas de trabalho crápulas, sanguessugas, missões profissionais tão impossíveis quanto aquelas dos filmes. Mas o teu marido sempre foi um mala sem alça? A tua mulher uma infeliz que só reclama? Bom, aí a culpa é sua, reconheça que a coisa pode melhorar.
Quem mandou ser inseguro e achar que nesta idade não pegaria mais ninguém? Ora, quem se ama, confia mais e seleciona melhor. Mas este assunto também é tema de outras literaturas, talvez menos óbvias. Quem sabe nestas, se encontre uma resposta?