Aos 16 anos, o beatle Paul MacCartney escreveu a canção When I’m Sixty Four (quando eu tiver 64 anos). Era uma pergunta à namorada se ela ainda o amaria, alimentaria e pediria que trocasse o fusível quando faltasse luz. Ela estaria tricotando diante da lareira, esperariam os netos e fariam planos de uma temporada na casa da praia, reunindo a família. Dois idosos fofos como aqueles vovôs e vovós de biscuit que decoram as tortas em bodas de casamento. Viúvo, o beatle não seguiu a trilha da canção, um foxtrote do século passado e até hoje, aos 74 anos, ainda mantém a rotina dos concertos musicais em seu terceiro casamento.
Nós, idosos modernos, sentimos as dores típicas da idade, a pele já nem é tão macia e os cabelos, ou nos abandonaram ou assumiram aquele branco-cinza que nos dá um ar de respeito. O corpo, em geral, acusa o peso da gravidade. Temos vagas especiais nas garagens, descontos em espetáculos, nos transportes públicos e seguimos na ativa. Trabalho anda meio difícil de manter, pois quem vive de emprego tem a seu favor a experiência e contra, algumas vantagens que irritam patrões sovinas. A idade tem seu preço. E pagamos, com ou sem desconto.
O que me conforta é saber que aos 64 anos, não estou gagá como o bom velhinho da canção dos Beatles, embora tenha um ritmo próprio de quem reconhece o fardo da idade. Não como algo ruim, mas inevitável. Nada de tinta no cabelo, nada de aturar coisas que me fazem mal, e a cada dia mais disposto a me concentrar no que realmente importa (seja lá o que isso for). A velhice é o atestado de sobrevivência que assinamos com nosso comportamento, seja ele bom, mediano ou totalmente desleixado.
Percebo que tenho menos vergonha para demonstrar emoções, as pessoas me ouvem mais e por isso cuido para não transmitir conceitos sem fundamento. Um homem que amadurece de verdade não é preconceituoso, tem uma percepção muito mais aguda do que lhe acontece no entorno e isso é bem melhor do que poder sair correndo em direção a um objetivo, mas permitir uma aproximação mais adequada, sem afobações. Envelhecer me ensina a gostar mais de meus interiores e encarar a vida sem afobação.
Quero viver mais para descobrir o que é ser realmente um vovô, com netos e coisas domésticas para cuidar. E se poder pagar alguém para esse serviço, seguirei a observar o mundo a mil… E eu lento como a brisa que é muito mais acolhedora.