Arroio do Meio – O pesquisador Jaime Luis Diehl, à frente do projeto de preservação de espécies silvestres Gatos do Mato, sugeriu cautela à população para evitar a sensação de caos perante os supostos aparecimentos da espécie de felinos Puma Concolor (onça parda). Contudo ressalva que, apesar do porte, os pumas têm medo do ser humano, só se defendem caso estiverem encurralados.
Segundo ele, os ataques a animais domésticos são raros, estão fora do cardápio natural, pois o instinto predador tem como alvo outros animais silvestres como cervídeos, pacas e tatus. “Claro que não perdem a oportunidade quando surgem presas fáceis. Mas os ataques a animais domésticos ocorrem em situações extremas: quando a fêmea tem filhotes e precisa de alimento. Ou, quando o predador é novo (inexperiente), ou velho e doente (limitado) […] e essa espécie tem como características atacar frontalmente empunhando as presas na garganta para matar a vítima por sufocamento. Dificilmente atacam a cabeça. A primeira coisa que comem são as vísceras, os rins e o fígado, por conter alta quantidade de sangue, alimento preferido. Só comem os músculos dias depois, no local onde guardaram o corpo”, revela, observando que a primeira suspeita sempre deve ser de cachorros abandonados ou esfomeados.
Na noite de quinta-feira (08), novos vestígios de pegadas de puma foram vistos no galpão que foi fechado com tábuas, na propriedade de Verno Schumann, em Dona Rita. No local, em menos de 60 dias, três terneiros foram mortos e um ficou ferido em dois ataques. Relatos de pessoas que supostamente teriam visto os animais silvestres na localidade estão motivando uma investigação mais aprofundada para desmistificar os fatos. O ambientalista, juntamente com representantes da Organização Não Governamental (ONG) Ecobé, pretende instalar armadilhas fotográficas em um sítio situado no Morro da Ventania.
Segundo ele, a espécie já habitou todo o território brasileiro, mas, nas últimas décadas, só era vista no RS, na região dos Campos de Cima da Serra. Entretanto, há uma teoria de que o aperto da fiscalização contra a caça pode ter aumentado a população de onças pardas e, como são indivíduos territorialistas, teriam migrado para a região dos vales. Tanto é que, em 2013, uma foi morta em São Valentim do Sul após atacar ovelhas em uma propriedade na várzea do rio das Antas. Geralmente ocupam espaços de 30 km², podendo chegar até 100 km² quando há escassez de recursos.
Outra possibilidade é a redução de áreas florestais preservadas, habitat natural do animal, o que provoca a redução da oferta de alimentos naturais e estimula a aproximação de propriedades e animais domésticos. Jaime ressalva que, apesar do porte maior, são felinos silvestres como outros. Têm medo do ser humano e só atacam quando estão encurralados para se defender.
De acordo com moradores mais antigos do Vale do Arroio Grande, no passado, quando não havia restrição à caça de animais silvestres, era comum se deparar com onças pardas nos morros Leão, Gaúcho e Ventania. Alguns deles acreditam que a recente transformação do Morro da Ventania em “um bairro nobre”, em virtude da vista para o Vale do Taquari, pode ter colaborado para a espécie ter descido até as várzeas.