Eu que integro, sem orgulho e sobrecarregado de culpas, o time dos gordinhos, toda a vez que inicia um período de campanha eleitoral, assisto ao desfilo lindo, embalado em otimismo, frases feitas e canções que prometem a cura para todos os males públicos. Alguns conseguem um mínimo êxito, outros quase nada e a grande maioria, sejam estes candidatos ou eleitores, sempre encerram seus períodos com um sabor bem marcado de frustração. As promessas que fazemos a nós mesmos, por exemplo, também na maioria das vezes não combinam com a realidade vivida.
Emagrecer com dieta e sem acompanhamento é fantasia. Reduzir os drinks e não trancar a adega em casa, muito menos. Trocar de emprego, de marido, de esposa e continuar o mesmo – porque eu sou o máximo, ou o mínimo – é outra demanda que não passará das primeiras horas de uma terça-feira. A teoria arrogante de que vocês vão ter de me engolir acaba sempre de forma indigesta.
A semana que passou me levou a enfrentar alguns desafios e quebrar promessas antigas. Tão velhas, tão ultrapassadas e sem fundamento que me liberei para o que der o vier. Nas horas vagas, em botecos, almoços, muitas vezes pratico uma espécie de psicanálise ambulante com os amigos mais chegados. Trocamos confidências, xingamos o mundo, as vicissitudes, tentamos banir idiossincrasias para ao final sairmos aliviados. Mas realmente tomamos alguma medida que altere significativamente o rumo das coisas?
Mudar cansa, obriga a despir mecanismos infantis de defesa e tratar a aflição interior com a seriedade impossível em um bate-papo informal. E justamente por cansar, leva à procrastinação. Deixar para segunda-feira muda apenas a data do novo conflito, porque se já nos assumimos turrões, se obrigamos os outros a nos engolirem assim, xaroposos e amargos, o mais provável é ver as promessas desta nova semana transformadas em um desarranjo nada intestinal.
Os políticos com suas ilhas de fantasia em campanha, suas brigas com oponentes de ocasião, se não estiverem bem preparados, serão apenas promessas de segunda-feira. Cada um pode criar o seu próprio partido do bem viver e buscar projetos viáveis, que chamar a atenção não pelas fragilidades e delírios, mas pela força que transforma limitações em conquistas.
Assim, na hora certa e não naquela que decidimos para ganhar um tempo, transformaremos promessas em relações amorosas únicas e indivisíveis. Seremos muito mais do que um compromisso esquecido em uma antiga agenda.