Quando estive aí pela última vez, na terrinha, criei coragem para olhar as fotos que minha mãe guarda há décadas. Dona Gerti Jasper, falecida aos 81 anos, em 6 de julho, e o seu arquivo de imagens conta a história de toda a nossa família, incluindo amigos e pessoas que foram importantes ao longo de nossa existência.
Entre as fotos, acomodadas em diversos álbuns, caixas de papelão de camisa e de sapato, há inúmeros registros de enchentes que ao longo da história assolaram Arroio do Meio e o Vale do Taquari. Nos dias de cheia, o velho Giba costumava botar minha mãe, eu e minha irmã no carro, depois do almoço, para percorrer os principais pontos atingidos por rios e arroios que saiam do leito normal.
Cito o hábito do meu pai para comprovar que há mais de 40 anos os alagamentos ocorrem nos mesmos lugares em diversos municípios do Vale do Taquari. À distância, assistindo o noticiário de televisão ou vendo as fotos dos jornais da região debaixo d’água, é doloroso imaginar a aflição que assalta os moradores das zonas ribeirinhas. É um drama reincidente, inverno, verão, outono e primavera.
Sou jornalista. Não tenho expertise alguma sobre saneamento, mobilidade urbana, planejamento ou ocupação do solo. Talvez por isso me chame atenção a ausência de soluções definitivas para um problema tão antigo e grave, que atinge habitantes das cidades e do interior.
A Defesa Civil faz excelente trabalho, mas necessita parcerias e meios
A proliferação de moradias nas imediações dos cursos d’água é um fenômeno histórico. Nos grandes centros urbanos, o descarte desordenado de lixo amplifica os problemas de escoamento pluvial, causando enormes transtornos e alagamentos. Educação, talvez, seja o paliativo.
Na agricultura as perdas com as enchentes são imensas. Isso compromete as finanças dos municípios que dependem do setor primário para gerar emprego, emperrando a roda da economia de produzir riqueza através dos tributos.
A vida de milhões de pessoas sofre mudanças drásticas. Sonhos são interrompidos pelas águas fora do curso natural. Objetos comprados a duras penas são tragados, sofrimento é impingido a trabalhadores, donas de casa, jovens e idosos. O humor do clima não poupa ninguém. Todos sofrem de alguma maneira.
Já passa da hora de um grande mutirão, integrado por entes públicos e privados, clubes de serviço. Entidades como a Defesa Civil, que lutam com dificuldades e inúmeros obstáculos materiais e financeiros, fazem um trabalho altamente elogiável. Mas é pouco, é preciso parcerias, solidariedade e sensibilidade social.