Neve de isopor, Papai Noel com barba de algodão, árvores plásticas e presépios de gesso. O que é verdadeiro afinal, nesta busca desesperada pelo espírito de Natal? O nascimento do Salvador para os cristãos, a celebração ao entendimento para agnósticos. “Eu fico sempre muito triste nesta época”, confidencia uma vizinha, chateada com a lista de presentes, o amigo secreto no trabalho e muito pouco tempo para refletir sobre o verdadeiro sentido de tudo isso. Logo em seguida é o réveillon com seus pulinhos nas sete ondas, roupas na cor da sorte para o novo ano, fartas promessas e ao final, remédio para toda a ressaca.
Meu avô Alfredo uma vez me disse que o importante não era apenas dar atenção às datas festivas de final de ano, mas principalmente cuidar do vão entre o que se conquistou até o instante do brinde em família. Pode haver um grande fosso a engolir as coisas importantes que acabamos deixando de lado, por descuido ou omissão. A virada de ano para muitos significará também um período de ansiedade. Quem sabe no vácuo das realizações, não encontremos soluções novas e criativas?
É tempo de sermos originais em meio ao igual. Eu por exemplo, encontrei entre vagões de acertos e mancadas – lições vivas do que não deverei repetir a partir do próximo ano. E para o Natal, sacarei do borrão escuro das lembranças, o guri que superava a infância pobre, de presentes escassos, com esperança e criatividade. Qualquer quinquilharia virava diversão.
Os brinquedos humildes, empacotadas às pressas pelo Noel que tinha uma voz muito semelhante a de meu pai, bastavam para fazer daquela, uma noite única. Sim, eu sabia quem era o Noel da família. E admirava e respeitava aquele esforçado Noel. O sentido de tudo isso, está aí.
Vamos com calma às compras e dediquemos alguns minutos para uma visita àqueles vãos que guardam o mais intenso de nosso cotidiano afobado e que, às vezes sem sinais, explodem igual a crise arterial. Esse é o meu jeito de não contaminar meu espírito com mais dor nesta época. Melancólico? Pode ser, mas de um jeito que valoriza as boas memórias, embaladas em tempos nem melhores, nem piores, mas muito bem vividos que não se perderam nos dormentes da ferrovia do cotidiano.