Os jornais informam que a Caixa Federal e o Banco do Brasil fecharão agências e irão estimular demissões voluntárias para reduzir despesas. Quem diria, hein? Não entendo como estas instituições chegaram a este ponto no momento onde a maioria dos bancos registra superlucros nos balanços. Além disso, sou do tempo em que ser funcionário destas instituições era mais que um emprego: era um status.
Lembro saudoso do meu pai que não sossegou até me “convencer” a prestar concurso do Banco do Brasil por duas vezes. Na última, eu ainda fazia Jornalismo em São Leopoldo, na Unisinos. Aos sábados tinha aula até o meio-dia e vinha de carona com um colega de Lajeado. Lá, no Colégio Estadual Castelo Branco, ou Castelinho, assistia aulas preparatórias ao concurso até às 19h. Ou seja, eu passava as tardes de sábado, durante dois meses, enfurnado entre conteúdos de economia, contabilidade e Direito, além de português, matemática e as disciplinas “normais”.
No dia da prova, lembro do verdadeiro pavor que se apossou de mim. Havia um conflito irremediável: meu pai queria, com todas as forças, que eu me tornasse um respeitável bancário. Eu, no entanto, detestava a ideia de passar a vida entre cifras, percentuais, burocracia e, o pior: permanecer por horas a fio enfurnado como caixa, fechado e trancado.
Muitos pais se omitem da tarefa de educar para não contrariar a vontade dos filhos
Decidi que as questões cuja resposta eu sabia marcaria a opção errada. O objetivo, confesso, era garantir que não seria aprovado. Mesmo assim havia o risco de passar na prova. Afinal, 80% das questões eram totalmente estranhas à minha compreensão. O resultado, para minha alegria, foi a reprovação nas duas tentativas. Mesmo feliz, mal pude encarar meu pai, cuja expectativa foi frustrada.
Recentemente minha filha ficou em dúvida sobre a continuidade no curso de Direito. Na conversa franca que tivemos, ela lembrou do episódio do concurso do Banco do Brasil. E ponderou:
– Pai… tu também queria ser jornalista de qualquer maneira. Tu chegou, até, a desobedecer o teu pai, uma coisa muito perigosa naquela época!
Ela tinha razão. Naquele tempo, vivíamos a vontade exclusiva de nossos pais. Sem ao menos a liberdade de questionar ou opinar. Hoje presenciamos o outro extremo. A liberdade foi banalizada pela ausência quase absoluta de deveres.
Muitos pais, temerosos em contrariar as vontades de seus filhos, se omitem na obrigação de educar, formar e legar valores. Por isso, ostentação, consumismo e cultura do descartável imperam. Extremos nunca são saudáveis.