Certa vez sonhei que eu e meus filhos brincávamos em uma piscina enorme, cheia de números de plástico. Ganhava quem mais identificasse os numerais. Contei a meus colegas e um deles, apaixonado por loterias, me perguntou se eu lembrava alguns destes números. É claro que esquecera tudo. Mas inventei um milhar qualquer para alegrar esse colega. Lá foi ele fazer “uma fé” e insistiu para que eu jogasse, o que não fiz. Havia escolhido números soltos, sem relação com o sonho. No dia seguinte, fiquei sabendo que os meus números lhe haviam garantido uma boa grana. Eu não entendera a mensagem do meu próprio sonho?
Aprendi que não bastam os sonhos, é saber interpretá-los. Existem dezenas de livros sobre o tema. E é claro, não comprei nenhum, segui desperdiçando sonhos. Uma vizinha de minha procura ser a diretora de seus próprios sonhos. Se precisa de alguma luz na área de finanças doméstica, lê revistas, livros, fala com amigos sobre o tema.
Quando sonha com o que vem assimilando acordada, parte para a execução dos projetos. Ela garante que funciona. Os sonhos lhe dão o rumo que, mesmo a mesma fina orientação técnica, não assegura.
Diz que na maioria das vezes, sonha com algum novo projeto – ela é arquiteta – ou cliente, propondo algo rentável e nada delirante. Tem sonhos práticos, ora vejam. Ela diz ser uma espécie de lei da atração de travesseiro.
Mas adverte que a coisa só não funcionava para conseguir namorado. Muitas vezes idealizava o cara, sonhava com ele em cenas românticas, mas tudo o que lhe aparecia nunca era bem aquilo que o mundo dos sonhos lhe apresentara.
Lia publicações esportivas, tipo futebol e automobilismo. Fora assistir jogos em bares, onde a testosterona impregna o ambiente, mas inevitavelmente, errava o foco.
Ou o cara gostava tanto de futebol que esquecia que namorar é melhor longe dos estádios, ou era tão insosso que ela preferiria dormir. Não existe o homem dos sonhos, concluiu.
Por mais que procurasse aquele cara que, no mundo onírico lhe apresentava, poeta ou amante intenso, Na vida real, só apareciam sujeitos inseguros, às vezes carentes e sempre com uma história triste de uma ex.
A partir daí, concluo que é bom ficar atento aos sonhos. Eles articulam os sentidos e estimulam a criatividade. É como o músico que sonha com uma canção e precisa gravá-la imediatamente para que não seja esquecida.
A diferença é que uma canção você estrutura como bem entende, sonhada ou não, depende de uma dose de inspiração. Um número de loteria é pura intuição. Mas dividir o sonho com outro, exige sintonia fina. Essa é construída de pés no chão, onde os sonhos que alimentaram fantasias precisam alimentar-se de realidade.