No Grupo Gazeta, de Santa Cruz do Sul – onde trabalhei de 1983 a 1985 -, existia um jornalista, repórter do jornal e rádio e apresentador, que se notabilizou por ser um grande humorista. Apresentava um programa de música sertaneja no final da tarde, onde o ponto alto eram as imitações de diversos personagens que criava. A veracidade que emprestava aos tipos inventados era tamanha que era comum ouvintes virem ao estúdio para conhecê-los pessoalmente.
O colega era um jornalista de alto astral, mas negava todos os convites para integrar a equipe esportiva da emissora. Mas depois de um churrasco regado com muitas cervejas (Brahma Extra, na época a top das cevas), finalmente aceitou o desafio. A estreia aconteceria no jogo Santa Cruz x Pelotas no Estádio dos Plátanos.
No Hotel Charrua, na véspera do jogo, o chefe da equipe esportiva conversou com o experiente técnico Galego, do time visitante, para montar uma pegadinha com o repórter estreante. A “sacanagem” estava armada. No dia seguinte a partida preliminar ainda era disputada quando nosso personagem chegou ao estádio. Munido de microfone, planilha (aquelas de compensado com uma mãozinha de metal para segurar os papéis) e muita coragem para entrevistar a “velha raposa” que treinava o time pelotense.
Meu colega era um humorista… mas que não tinha senso de humor
– Boa tarde, técnico, Galego! Qual é o seu objetivo na partida de hoje? – indagou.
– Ora, meu filho… meu objetivo é ganhar. O senhor acha que vim de tão longe para perder? – devolveu o experiente treinador.
Meu colega não se intimidou e emendou a segunda pergunta:
– E aí… como vai jogar a sua equipe?
– Vai jogar com 11 jogadores… um no gol e dez na linha, meu filho! – retrucou.
Sem disfarçar a irritação, meu colega tentou uma derradeira pergunta-chavão:
– E qual é o seu esquema, treinador Galego?
– Olha aqui, meu filho… eu tenho 62 anos, sou casado, tenho filhos e dois netos. Tu achas que nesta idade ainda tenho energia para ter “esquema” aqui em Santa Cruz? – devolveu o técnico olhando fixamente para o interlocutor.
A entrevista terminou ali mesmo, sem ao menos a assinatura do repórter. O novato atirou planilha, microfone, caneta e fones de ouvido no chão e disparou resoluto em direção à saída do Estádio dos Plátanos. Eu e outros dois colegas o alcançamos no portão de saída.
Assim que contamos que se tratava de uma armação, fugimos em disparada. Furioso, o eterno gozador, rei das pegadinhas, ficou indignado. E nunca mais voltou à equipe esportiva.