Toda mulher é loira, todo homem usa barba. É uma simplificação demasiada? Talvez, mas basta olhar à volta para constatar que estas características estão em toda parte. Cito estes exemplos para provocar o debate redes sociais x características de cada lugar ou pessoa.
O fenômeno da internet opôs em campos distintos os defensores da identidade cultural versus os, digamos, “modernosos” que através das redes sociais absorvem conceitos, hábitos e características de outros lugares. O debate apaixonado causa mal-estar, além de posições extremadas que inviabilizam o diálogo construtivo.
Esta dicotomia se mostra evidente nas comemorações da Semana Farroupilha. Um grupo defende o direito do uso da pilcha somente àqueles que “professam a religião gaudéria” nos 12 meses do ano. Outros, como eu, que comem churrasco, tomam chimarrão, ouvem música nativista, mas não envergam bombacha diariamente, consideram normal que o espírito farroupilha se aguce no 20 de setembro.
Acho possível manter os valores que herdamos de nossas famílias e adaptar seu uso à modernidade, o que, se feito com sensibilidade, pode enriquecer nosso cotidiano. Fenômeno similar ocorreu, em termos de polêmica mundial, com o advento da televisão.
Como em tudo, os extremos são péssimos conselheiros
Rádio, teatro, cinema, e outras manifestações estariam condenadas ao ostracismo ou à extinção, conforme os alarmistas de plantão. O que se viu foi a transformação da tevê em veículo que auxilia na divulgação de outras manifestações culturais.
A humanidade possui infinita capacidade de adaptação. O que parece impossível de ser assimilado se acomoda ao longo do tempo, justificando o ditado “é no andar da carroça que as melancias se acomodam”.
Seria insano dizer que a internet tem seu lado nefasto, de quase obsessão que impede, até, muitas pessoas de participar de atividades sociais. Uma legião de fanáticos posta-se diante de telas de computador e smartphones para interagir tecnologicamente, e não pessoalmente.
Aos poucos, porém, nota-se um refluxo. Esta semana soube de uma pesquisa em que 77% dos brasileiros gostariam de abandonar as redes sociais. Não acredito neste percentual, mas talvez exista mesmo muita gente que gostaria de fazer mais happy hour e menos chats pela internet.
Como repito à exaustão para meus filhos, o bom senso está no equilíbrio. Os extremos são péssimos conselheiros. É possível manter as relações tecnológicas, sem esquecer do chopinho ou dos churras no final de semana. É só tentar.