O clima de Natal está longe de me abraçar como em anos anteriores. Sei lá, mas além das eleições, das denúncias premiadas e das decepções generalizadas – de políticos a empresários, de servidores públicos até o cidadão mais comum – tudo parece retirado de um pesadelo ao melhor estilo Pasolini (polêmico diretor italiano de cinema). São moralistas de redes sociais, estarrecidos com o noticiário, a cair de pau contra todos os males e falcatruas e sempre com uma opinião formada em legendas de fotos, ou nos posts falsos que viralizam online.
Fico atônito com a facilidade encontrada para condenar sem júri, ou pior, buscar teses originais que acabam transformadas em repetições cansativas do óbvio. Tudo isso me deixa sem assunto, sem disposição para opinar, mesmo quando busco o máximo de informações para chegar a um ponto comum. Estou sendo original? Claro que não. A maioria dos meus leitores já postou algum comentário, formulou alguma tese sobre isso e aquilo. O mundo vai acabar, o Brasil não tem mais jeito, o Rio Grande do Sul está quebrado e a salvação está no blá blá blá.
O casamento, suas alegrias e tristezas, temas que costumo escrever inspirado na experiência alheia, com pitadas de minha vivência na área, também virou uma pauta gasta em jornais, revistas e redes sociais. O tema só perde para blogs e publicações e programas de tevê sobre gastronomia. Master Chef e outros, e outros e outros.
Enfim ou é o sexo ou a receita da moda. Almôndegas, sempre tão singelas ganham combinações, ou melhor, harmonizações, arrojadas com queijos, molhos e bebidas adequadas àquele paladar de cozinha da mãe. E nos espaços online, todos se copiam, a maioria errando no sabor. Comida caseira é sempre incomparável, assim como um original faz jus ao nome e nunca se repete.
Portanto, desculpem-me se não contei nada inédito, ou se a minha avaliação é igual, ou pior das centenas que já leram sobre o cotidiano das redes sociais, dos cartões de desconto, dos políticos e dos empresários que aceitam ou pagam tudo para chegar ao topo. E caem atirando para todos os lados.
Na semana que vem é Natal e serei igual a maioria, sem nenhuma originalidade na festa da firma, no amigo secreto ou nos excessos que se resumem a muita comilança. Uma pequena concentração no espírito solidário, na mensagem de paz poderá ser o toque original. Desde que feito com sinceridade, o que sempre é muito raro.